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BAD avisa que África deve preparar-se para enfrentar crise alimentar global

Fonte: APO GROUP

O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, anunciou recentemente que a África deve preparar-se para a inevitabilidade de uma crise alimentar global, a acontecer nos próximos meses, quando a crise agravar-se.

Segundo o responsável, a triplicação dos custos dos fertilizantes, o aumento dos preços da energia e a subida dos custos da cesta básica de alimentos são as principais crises que poderão agravar-se em África nos próximos meses.

Akinwumi Adesina falava quando intervinha como convidado no Centro Africano do Conselho Atlântico, na última sexta-feira, onde deu uma palestra.

Respondendo a questões do Presidente do Centro Africano do Conselho, o Embaixador Rama Yade; a investigadora sénior Aubrey Hruby; e do correspondente de Washington/ONU para Jeune Afrique e The Africa Report, Julian Pecquet, o líder do Banco apelou a um maior sentido de urgência num contexto de convergência de desafios globais para África, que acontece uma vez num século.

De acordo com Adesina, os países mais vulneráveis do continente foram os mais atingidos pelo conflito, pelas alterações climáticas e pela pandemia de Covid-19, o que fez regredir o progresso económico e de desenvolvimento em África. Afirmou que África, com as mais baixas taxas de crescimento do PIB, tinha perdido cerca de 30 milhões de empregos devido à pandemia.

Falando do impacto da guerra Rússia-Ucrânia, Adesina expressou a sua simpatia pelo povo da Ucrânia, descrevendo o seu sofrimento como inimaginável. Disse que as ramificações da guerra se estenderam muito para além da Ucrânia, a outras partes do mundo, incluindo África. Explicou que a Rússia e a Ucrânia fornecem 30% das exportações globais de trigo, cujo preço subiu quase 50% a nível global, atingindo níveis idênticos aos da crise alimentar global de 2008. Acrescentou que os preços dos fertilizantes tinham triplicado, e que os preços da energia tinham aumentado, o que alimentou a inflação.

Adesina advertiu que a triplicação dos custos dos fertilizantes, o aumento dos preços da energia, e a subida dos custos da cesta básica de alimentos poderiam agravar-se em África nos próximos meses. Observou que 90% das exportações russas, no valor de 4 mil milhões de dólares para África em 2020, eram constituídas por trigo; e 48% das exportações ucranianas de quase 3 mil milhões de dólares para o continente eram constituídas por trigo e 31% por milho.

Adesina advertiu que para evitar uma crise alimentar, África deve expandir rapidamente a sua produção alimentar. “O Banco Africano de Desenvolvimento já está ativo na mitigação dos efeitos de uma crise alimentar através do Mecanismo Africano de Resposta à Crise Alimentar e de Emergência – um mecanismo dedicado que está a ser considerado pelo Banco para fornecer aos países africanos os recursos necessários para aumentar a produção alimentar local e adquirir fertilizantes.

“O meu princípio básico é que África não deve estar a mendigar; devemos resolver os nossos próprios desafios sem depender de outros”, disse Adesina. O líder do Banco falou de sucessos promissores através da iniciativa inovadora do Banco, o programa Tecnologias para a Transformação Agrícola Africana (TAAT), um programa que opera em nove produtos alimentares em mais de 30 países africanos.

Adesina disse que o TAAT ajudou a aumentar rapidamente a produção alimentar à escala do continente, incluindo a produção de trigo, arroz e outras culturas cerealíferas. “Estamos a pôr o nosso dinheiro onde a nossa boca está. Estamos a produzir cada vez mais dos nossos próprios alimentos”. O nosso Plano de Emergência Alimentar para África produzirá 38 milhões de toneladas métricas de alimentos”. Adesina disse que o TAAT já tinha entregue “variedades de trigo tolerantes ao calor a 1,8 milhões de agricultores em sete países, aumentando a produção de trigo em mais de 1,4 milhões de toneladas métricas e um valor de 291milhões de dólares”.

De acordo com Adesina, as variedades tolerantes ao calor estavam agora a ser plantadas em centenas de milhares de hectares na Etiópia e Sudão, com resultados extraordinários. Na Etiópia, onde o governo colocou o programa TAAT a trabalhar num programa de  200.000 hectares de trigo irrigado em terras baixas, os agricultores estão a relatar aumentos no rendimento de 4,5 a cinco vezes por hectare. Ele disse que as sementes inteligentes do TAAT também estavam a prosperar no Sudão, que registou a sua maior colheita de trigo de sempre, 1,1 milhões de toneladas de trigo, na época de 2019-2020.

Adesina acrescentou que o TAAT veio em socorro dos agricultores durante a seca na África Austral, em 2018 e 2019, implantando variedades de milho tolerantes ao calor que foram cultivadas por 5,2 milhões de famílias em 841 mil hectares. Como resultado, disse, os agricultores sobreviveram à seca no Zimbabué, Maláui e Zâmbia, permitindo que a produção de milho se expandisse em 631.000 toneladas métricas até um valor de 107 milhões de dólares.

Adesina falou também da necessidade urgente e oportuna de um forte reabastecimento do Fundo Africano de Desenvolvimento – o braço de empréstimos concessionais do Grupo Banco que apoia os países africanos de baixo rendimento. Afirmou que o Fundo ligou 15,5 milhões de pessoas à eletricidade e apoiou 74 milhões de pessoas com uma agricultura melhorada; proporcionou a 50 milhões de pessoas acesso aos transportes; construiu 8.700 quilómetros de estradas; e proporcionou a 42 milhões de pessoas instalações melhoradas de água e saneamento.

O chefe do Banco disse que havia três lições a tirar para África dos desafios que África enfrenta: primeiro, que o continente já não podia deixar a segurança sanitária do seu povo à benevolência dos outros; segundo, que deve encarar os investimentos na saúde de forma diferente, e fazer do desenvolvimento de um sistema de defesa sanitária uma prioridade – investir em infraestruturas sanitárias de qualidade como uma obrigação – e terceiro, que as economias, que já estavam a dar a volta, devem criar espaço fiscal para lidar com os desafios da dívida.

Questionado sobre os resultados para África da cimeira global sobre o clima, COP26, em Glasgow, em novembro passado, e como encara as perspetivas de sucesso na COP27 em Sharm El Sheikh, no Egito, em 2022, Adesina expressou otimismo. Disse que era importante para os países desenvolvidos cumprirem a sua promessa de fornecer a África os 100 mil milhões de dólares por ano necessários para a adaptação climática. “O nosso desafio é a adaptação porque não fomos nós que causámos o problema. Em África, estamos a adaptar-nos às alterações climáticas”, disse Adesina.

Explicou que o Banco Africano de Desenvolvimento, juntamente com o seu parceiro, o Centro Global para a Adaptação, estava a mobilizar 25 mil milhões de dólares para apoiar a adaptação climática em África.

O líder do Banco Africano de Desenvolvimento salientou a importância do setor tecnológico como motor do crescimento em África, e as perspetivas para os jovens do continente. Adesina descreveu a juventude africana como um dos seus maiores trunfos. Elogiou as contribuições dos jovens empresários nas indústrias ‘fintech’, digitais, de artes criativas e de entretenimento. Disse que a necessidade dos jovens empreendedores de financiamento inovador é a razão pela qual o Banco está a explorar com as partes interessadas o estabelecimento de bancos de investimento especializados em jovens empreendedores para desbloquear o potencial e o crescimento económico.

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