“Amo cantar, amo a minha cultura, não tem sido por dinheiro que tenho cantado” – Edna Mateia
Por: Nambi Wanderley
Com quase duas décadas de dedicação à música tradicional e não só, Edna Mateia, é uma artista dedica a família, uma boa mãe, esposa, amiga, assente em valores familiares e culturais, conforme se descreve, que mesmo sem grandes insentivos no início da sua carreira não se rogou e arregaçou as mangas para continuar a trabalhar e a lutar pelos seus sonhos, tornando-se hoje uma artista premiada e conhecida por todo o país.
Uma carreira com bases consolidadas, a artista da Cidade Vida (Huambo), terra de nomes como Bessa Teixeira, segundo classificado na última ediçãodo Top dos Mais Queridos, Pérola, outra artista premiada e bastante conhecida dentro e fora de Angola e do Malogrado Tchissica Artz, cujas músicas até hoje são bastante apreciadas, abriu o seu coração e contou-nos um pouco sobre a sua vida e obra.
Fique com a entrevista:
Edna Chinofila Canguende Mateia Carvalho Portela, nasceu a 10 de Dezembro de 1984, na Província do Huambo, é filha de Alfeu Mateia e Margarida Ernesto.
1-Quando surgiu em si o grande bichinho pela música?
EM – A Música aparece na minha vida muito cedo, no grupo coral infantil da Igreja Congressional em Angola IECA.
Na medida que fui crescendo, fui passando por vários grupos corais dentro da igreja.
Mas foi no ano de 2006 que tudo começou de forma mais séria, quando participei num concurso denominado “Vozes Femininas” no qual sagrei-me vencedora e de lá para cá foi só seguir…
2-Para afirmação no mundo da música precisou fazer algum sacrifício?
EM – Como em tudo na vida, não há sucessos sem sacrifício e o meu caso não foi diferente, o meu esposo, um antigo patrão e poucos amigos foram os únicos que no início da carreira deram o verdadeiro empurrão.
O mundo da música não é fácil e é necessário realizar-se um enorme investimento, tenho feito muito ao longo dos anos.
Há algum tempo assinei um contrato com a Banzelos, no sentido de levar a cabo uma carreira mais profissionalizante, onde a empresa iria fazer o agenciamento e promoção da minha carreira, acreditei no projecto e nas mais-valias que me foram apresentadas pela direcção.
Do início da carreira até agora, já fiz de tudo, viajei, abri o meu negócio e em família procurámos, sempre, levar a bom porto este sonho da música.
3-A música não foge a regra, no que diz respeito aos momentos altos e baixos. Pode destacar alguns deles?
EM – Realmente ao longo do percurso foram vários os momentos altos:
- O Prémio Nacional de Música Angolana «Variante» 2014 – Realizado em Ondjiva;
- A Participação na Semi Final do Unitel Estrelas ao Palco 2018 como Convidada Especial;
- O Contrato com a Produtora Banzelos;
- A minha participação como cantora convidada do Top dos Mais Queridos – Edição 2019, para o Cantares da Terra, tema principal do evento
Momentos baixos:
O início da carreira é sempre um momento baixo, pelas peripécias, dificuldades e obstáculos ao longo da caminhada, o facto de ser mulher e ter uma visão diferente sobre a vida, sofrer assédios, apostar na família e não ceder a tentações, propiciou-me alguns dos momentos
baixos, porque por recusar ir contra os meus valores, originou situações, perdi algumas oportunidades que poderiam ser consideradas grandes oportunidades.
4-Para este ano os fãs da Edna poderão esperar por alguma novidade? Quais são os seus os projectos em carteira?
EM – Para os admiradores da minha música, prometo continuar a dar o meu máximo, compor, produzir músicas que toquem o coração, seguindo sempre aquilo que é a minha linha.
O lançamento de um álbum, é também meu objectivo pessoal, porém será a Banzelos quem definirá as datas e realizará toda a comunicação, como é da responsabilidade da Banzelos esse tipo de acções de Comunicação, Marketing e Promoção artística, eu farei a minha parte, logo que seja indicada.
5-Acha que se tivesse fixado residência em Luanda, a sua carreira estaria muito mais compacta?
EM – Estou em querer que a agenda de espetáculos não depende da residência, mas da forma como o artista é promovido e reconhecido, do meu lado, a minha agenda é controlada e gerida pela minha Produtora/Agência e só ela poderá dizer se está totalmente fechada ou não.
O que é importante é manter-se os fãs sempre actualizados e os shows a acontecer.
Carreira compacta?! Não entendo o que quer dizer com isso, mas o que posso dizer é que me orgulho da minha já relativamente extensa carreira e tudo o que dela tem sido gerado.
6-Viver na província do Huambo e dar shows por Angola fora tem sido fácil? Como consegue se desdobrar?
EM – A família tem sido muito permissiva e o Meu Marido e filhos têm sido verdadeiros heróis.
Não é fácil gerir a ausência, mas quando acontece, seja por que razão for, é sempre compreendido, porque ela acontece com um propósito maior, amo cantar, amo a minha cultura, não tem sido por dinheiro que tenho cantado, apesar de ser importante, porque dependemos dele para viver, mas é o futuro da minha família que tenho em vista.
7-Fale dos prémios conquistados até agora. Quantos prémios já recebeu? E qual foi o que mais lhe marcou? Porque razão?
EM – Foram vários os prémios que recebi durante o trajectória, cada um com um sabor diferente, marcando um capítulo específico da minha história
* 2006 Vozes Femininas
* 2014 Prémio Nacional de Música Popular Angolana «Variante» 2014
*2016 Melhor Voz Feminina e Música do Ano, Prémio Huambo Cidade Vida
*2017 Melhor Voz Feminina, Prémio Huambo Cidade Vida
8-Qual foi sabor de ter ganho a Variante Musical?
EM – Foi com grande satisfação que ouvi o anúncio do presidente do corpo de jurados, de que eu era a vencedora do concurso naquele ano.
O Variante é um dos poucos concursos, que promovem, de facto, a música e identidade Cultural Angolana.
9-Acha que tem recebido reconhecimento e valorização do pessoal Huambo, diante daquilo que fazes em prol da província?
EM – Eu amo o Huambo, o Huambo é a minha casa. Sou Angolana com muito orgulho e adoro a nossa terra, o que eu faço tem tido repercussão para a província em termos culturais sim e a província tem agido de acordo, quer política como socialmente.
Não tenho nada a apontar e orgulho-me de dizer que somos uma família, o Governo Provincial do Huambo e muitas outras entidades têm sido parte da equipa, representamos a província sempre, acima de tudo como cidadãos.
10-Falar da preservação dos valores culturais, para si de forma os músicos devem dar o seu apoio?
EM – É importante dizer de antemão que nós os artistas somos parte dos valores culturais. Por isso é impossível dissociar-se o artista de toda uma componente de valores culturais de uma determinada região, sendo ele responsável pela continuidade da transmissão, promoção e divulgação de tais valores.
Os músicos são fazedores de opinião, são criadores de hábitos e por isso responsáveis por tudo o que fazem, dizem e proporcionam.
A cultura passa-se de geração em geração e em cada geração desenvolvemos hábitos que se podem tornar culturais, daí os músicos terem um papel muito activo na responsabilidade de transmissão de valores e de hábitos culturais.
11-Acha que os mais velhos estão a passar bem o seu testemunho aos jovens? Justifique porquê?
EM – Estão e não estão…. Existem aqueles kotas dispostos a ensinar o que sabem e aqueles que nem por isso, também há hipótese de falta de abertura dos próprios jovens para o conhecimento.
12-A nova geração tem se mostrado disposta a receber as orientações dos Kotas?
EM – É Relativo, de um lado temos jovens com grande interesse em aprender e dar continuidade ao trabalho dos kotas e do outro lado temos aqueles que infelizmente consideram ser um retrocesso cantar música em língua Nacional ou com ritmos tradicionais.
13-Por portas e paredes nos apercebemos que a Edna Mateia tem sido a “papa prémios” da cidade vida. O que representam para si estes prémios?
EM – Sim tenho ganho alguns prémios e agradeço o reconhecimento que me é atribuído, se me dão valor talvez seja por merecê-lo.
Todos sabem a minha trajectória e todo o esforço que tenho empenhado pela música, vou continuar assim e com a mesma forma de ser, respeitando os valores que me foram passados e recusando-me a realizar qualquer situação que vá contra os meus principios.
14-Em quem se expira para compor as suas músicas?
EM – Algumas músicas minhas foram escritas pelo escritor e pintor Van-Kembe, que por sinal é meu irmão e outras por mim, a inspiração é o quotidiano e sobre todos factos que marcam as famílias angolanas
15-Depois tantos anos de luta na música sente-se realizada?
EM – O Homem é um ser que será eternamente insatisfeito e eu só estarei satisfeita, quando sentir que as minhas responsabilidades estão realizadas, ainda tenho muito para fazer no Huambo, em Angola, em África e no resto do Mundo, porque sinto que posso levar a nossa cultura muito mais longe.
Tenho ideias, projectos e a certeza de que os vou realizar, mais cedo ou mais tarde, porque felizmente estou rodeada de pessoas sérias eque tal como eu amam o país, a nossa cultura e respeitam os valores que nos têm norteado a vida.
16-Conhece o portal “Notícias de Angola”? O que achou dele?
EM – Estou a conhecer agora e desejo toda a sorte do mundo, porque nunca são demais os órgãos que possam levar a nossa cultura além.
Obrigada pela entrevista.
Comentários estão encerrados.