Amandeu Cassinda: Por que não se deve ignorar as redes sociais?
Por: Amadeu Cassinda
A Primavera Árabe é tida como o corolário da ignorância que o mundo até então nutria em relação ao impacto dos efeitos dos media sociais na sociedade. Aconteceu que em Dezembro de 2010 o tunisiano, Mohamed Bouazizi, de 26 anos, vendedor ambulante de frutas e legumes para sustentar sua mãe e irmã, decidiu pôr fim à sua própria vida.
O seu pai morreu quando ele tinha 3 anos de idade. Desde os 10 ele vendia nas ruas, depois das aulas. Certo dia, as autoridades confiscaram o seu negócio, porque a venda ambulante era “ilegal”. Mohamed decidiu ir reaver o seu negócio, porque não tinha mais nada com o qual sustentar a sua família. O seu pedido foi negado. “Ele escreveu uma mensagem para a sua mãe no Facebook, pedindo perdão por ter perdido a esperança em tudo”. Depois, comprou duas garrafas de combustível e encharcou-se, ateando fogo em seu próprio corpo.
Este acto isolado, culminou numa onda de manifestações que se disseminou pela Tunísia, devastando como peste à Líbia, Egipto e o Médio Oriente. Recorde-se de que a Primavera Árabe teve a sua quota parte na implosão da guerra na Síria, como também no término do “reinado” de Kadhafi. Tudo graças aos media sociais, mormente, ao Youtube, Facebook e Twiter que foram os principais recursos de mobilização.
Alega-se, inclusive, que a Rússia terá influenciado os resultados das últimas eleições dos EUA por meio dos media sociais. Há ainda dados, assegurando que o actual presidente brasileiro foi igualmente eleito pelo uso eficaz das redes sociais. Exemplos de factos influenciados pelos media sociais com impacto retumbante na sociedade são quase que ilimitados. Os Tweets de Trump que os digam!
Vale ainda referir que as redes sociais surgiram primeiro que a Internet, o universo que as alojou só as conferiu mais poderes no que tange a sua influência na formação da opinião pública e, concomitantemente, no comportamento de seus utilizadores.
Os sites das redes sociais surgem como novos media sociais depois da Internet. As redes sociais entendidas como “formas de organização humana e de articulação entre grupos e instituições” acontecem numa sala de aula, num culto ou uma reunião de amigos e/ou de empresários de um determinado sector, sendo estes exemplos tradicionais de redes sociais (ROCHA, ET AL, 2014).
A “maka” é que, hoje por hoje, com o progresso das novas tecnologias de informação e comunicação elas acontecem no mundo virtual, no online, gozando de uma vasta popularidade cuja performance outorgou-lhes a designação de media social, competindo pela influência das massas com os media tradicionais. Os quais até então detinham o monopólio da transmissão de informação às massas. Ora, as redes sociais ocupam as primeiras alíneas da agenda mediática, ditando temas cimeiros das pautas jornalísticas.
As instituições e/ou organizações estão debandadas! Pelo que, toda hora lê-se, ouve-se e/ou assiste-se pelos media a divulgação de notas de esclarecimentos a respeito de informações alegadamente falsas que circulam nas redes sociais. Comummente, tal atitude ocorre numa acção reactiva e muitas das tais instituições não dispõem de uma página nas redes sociais e se têm a sua gestão não está subjacente a uma estratégia.
A Internet proporcionou à humanidade um mundo paralelo ao nosso, superando-lhe pela velocidade, eficiência e eficácia na execução das tarefas mais elementares às mais complexas do homem. Nesta nova realidade residem as redes sociais onde todas as instituições públicas e privadas, bem como as figuras públicas devem, nesta perspectiva, imigrar, ao invés de relegarem-nas à indiferença, por ignorância dos efeitos por elas causados ou por medo de exposição.
A inexistência de uma conta nas redes sociais não pressupõe a inexistência de uma determinada instituição público-privada ou de uma figura pública nesta realidade simbólica, os escândalos e as notícias falsas são provas disto, porquanto elas são a extensão da realidade objectiva e aquela não existe sem esta. Todavia, as redes sociais se apresentam como que nova estrutura cognitiva onde o processo de assimilação e acomodação podem ocorrer através da imigração das instituições e pessoas referidas para incrementar o equilíbrio social que a realidade objectiva possui.
As redes sociais podem ser a extensão da realidade objectiva em todos seus quadrantes onde o Estado como pessoa possa apresentar-se de forma mais exacta do ponto de vista simbólico, de sorte que através de suas instituições possa comunicar regularmente com os cidadãos sob estratégia que salvaguarde a natureza de cada uma em relação ao seu objecto e fim, como nos media tradicionais, por um lado.
A ignorância deste fenómeno não significa que ele não exista e que seus discursos não sejam inofensivos à reputação, imagem ou ao bom nome de instituições e/ou pessoas singulares nas mentes de pessoas conectadas às redes. Nem o muro da legislação pode impedir este efeito tatuante produzido por estes instrumentos poderosos.
O comentário ou publicação de um aventureiro assíduo, pontual e consistente neste meio pode ter mais impacto e credibilidade que uma nota de esclarecimento de uma instituição que só aparece uma vez por mês no “feed” para efeito de esclarecimento, por mais verdadeiro que seja o seu conteúdo. Para começar, tenho dúvidas de que se os internautas vão mesmo ler a alegada nota, pela técnica estrangeira do formato do texto, naquela realidade.
Mohamed Bouazizi veio a falecer aos 04 de Janeiro de 2011, apos a sua morte foi um dos distinguido com o Prémio Sakharov. Bouazizi é considerado como herói da democracia tunisiana. Ao redor do mundo árabe e não só, o seu nome tem sido eternizado em poemas, discursos e canções.
Amadeu Cassinda – é Licenciado Jornalismo pelo Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola (IMETRO), Deu voz ao programa Mais Comunicação, da Emissora Metodista de Angola (Rádio Kairós). Actualmente trabalha no Gabinete Comunicação Institucional da Imobiliária Imogestim.
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