Porta-voz de família

O estado de saúde do Eng.º José Eduardo dos Santos, ex-Presidente da República de Angola, é um assunto de interesse público. Mas, a divulgação de informação  que viola o direito à intimidade da sua vida privada e da família não é justa, como testemunhamos nos últimos tempos.

As notícias sobre as figuras públicas sempre suscitaram interesse das massas. A diferença é que hoje por hoje, este interesse, para além de gerar lucro,  é mensurável. Gera milhares de visualizações, gostos e altos níveis de engajamento nos novos media e nas redes sociais.

Para Ismael Mateus, tais notícias representam um “alerta amarelo para um caminho sinuoso do jornalismo sensacionalista que muitos países fizeram”, pelo que, o jornalista, no seu artigo: A Privacidade das Figuras Públicas, o Sensacionalismo e o Interesse Público recomenda “o estudo da realidade vivida por outros países com o fito de evitar o cometimento dos mesmos erros” (JA 16/05/2022).

O “insight” gerado por este alerta levou-nos a olhar para Assessoria de Imprensa, enquanto técnica de comunicação que visa a gestão dos fluxos de informação entre uma instituição/indivíduo e os media; porque esta sede de informação da vida privada de figuras públicas só está a começar e não tem fim à vista, na medida em que as figuras públicas não possuem o mesmo nível de protecção constitucional, se comparado aos cidadãos comuns.

É nesta perspectiva que sugerimos a figura do porta-voz de família. As figuras públicas com notoriedade “top of mind” devem ter presente a necessidade de contratar um porta-voz de família, à semelhança do médico de família.

Está comprovado que o silêncio não deve ser a regra quando surge informação que viole à intimidade da vida privada das celebridades. A figura do porta-voz de família seria uma pessoa idónea com certa notoriedade no seio da família e na sociedade, contratada e autorizada para pronunciar-se em nome da família sempre que acontecer uma crise de comunicação que a lese.

Em linhas gerais as especulações florescem num clima de falta do contraditório, e, no mais das vezes, a forma como a pessoa reage pode gerar ruído ou desconfiança, tal como ocorreu com a carta supostamente assinada pelo ex-presidente, autorizando exclusivamente o seu médico pessoal a falar sobre o seu estado de saúde.

Portanto, o porta-voz deve ser publicamente conhecido, por lidar com questões pessoais da família, importa que a relação jurídica com a família contemple a obrigatoriedade do cumprimento de cláusulas de confidencialidade. Em suma, esta figura representa um assessor de comunicação responsável por gerir a imagem e o bom nome da família junto dos media.

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