Ativista guineense apela jovens africanos na luta pela resiliência
Um ativista dos direitos da criança na Guiné-Bissau, Secou Sumani Sidibé, apela, de forma geral, aos jovens africanos para serem persistentes, capazes de luta e de resiliência muito superior à imposta por políticos.
“Devemos estudar mais, devemos procurar conhecer o mundo e fazer uma comparação com a sociedade em que nós vivemos. Devemos ser jovens virados para o futuro. Temos muitas coisas que nos podem atrapalhar no nosso dia-a-dia, mas temos que ser determinados. É preciso que tenhamos uma força de pensar que nós somos os únicos a podermos mudar África e o nosso comportamento do dia-a-dia também influencia a forma como devemos lidar com as situações”, afirmou Sidibé quarta-feira em Luanda, a capital angolana.
Ele disse acreditar que a juventude africana é uma juventude muito trabalhadora, honesta e que, por falta de oportunidades, tem sido marginalizada e silenciada.
“Mas nós devemos criar as nossas oportunidades, devemos ser persistentes e lutar para termos o nosso espaço, abrirmos novos horizontes e, sobretudo, vivermos com a sensibilidade e harmonia entre nós os jovens”, defendeu.
Também disse acreditar numa África onde as crianças já não vão passar fome, onde o acesso à educação seja gratuito e a liberdade de expressão “seja algo que vamos ganhando cada vez mais”.
Resumindo a sua vida de activista, Sidibé disse ter começado aos 11 anos de idade, participando no Parlamento infantil que é uma organização de crianças, que luta pelos direitos da criança e representa as crianças da Guiné-Bissau.
Disse que se trata de uma estrutura que funciona dentro da Assembleia Nacional Popular (Parlamento), tem um escritório e um orçamento.
“Quando se chega à Guiné-Bissau e se deseja falar com as crianças, há uma estrutura representativa para tal. Durante a minha passagem pelo Parlamento Infantil, desempenhei várias funções, nomeadamente as de coordenador no Departamento de Participação das Crianças e de presidente do tal Parlamento, de 2009 a 2014”, revelou Sidibé, a quem sucedeu Júnior Sebastião Tambá à frente deste Parlamento.
Falando do funcionamento do mesmo, o activista disse que este funciona com sessões periódicas anuais, organiza campanhas de sensibilização para a divulgação da convenção das Nações Unidas sobre os direitos da criança.
O Parlamento faz com que a sociedade conheça a convenção e saiba cuidar das crianças e lutar, sobretudo, pela sua emancipação, dando-lhes oportunidades de serem ouvidas, no tocante a questões que lhes digam respeito, indicou Sidibé, garantindo que “este é o nosso principal foco.”
As sessões periódicas acontecem duas vezes por ano, no dia 1 de Junho, dia internacional da criança, e a 20 de Novembro, dia da assinatura da convenção das Nações Unidas sobre os direitos da criança, acrescentou.
Sobre como o Governo bissauguineense actua para questões atinentes aos direitos da criança, ele afirmou que, depois da assinatura da convenção dos direitos da criança, criou-se um Instituto da Mulher e Criança.
Posteriormente, prosseguiu, criou-se o Parlamento da Criança que, com o instituto, são duas estruturas que funcionam para a promoção dos direitos desta última.
Quanto ao funcionamento do Instituto da Mulher e Criança, o orador disse que o mesmo funciona com dois departamentos fundamentais, dos quais um para a criança e outro para a mulher.
O instituto é responsável pela elaboração de todas as políticas de protecção da criança e pela coordenação de acções de todas organizações nacionais e internacionais que actuam na Guiné- Bissau, a favor das crianças, revelou o activista bissauguineense, que se encontra em Luanda desde 19 de Julho corrente para uma visita oficial de 11 dias.
Sobre o seu mandato enquanto presidente do Parlamento da Criança da Guiné Bissau, ele disse ter tido a sorte de estar lá numa altura em que o governo do seu país estava determinado a lutar contra o tráfico de seres humanos, passando pela própria questão das crianças “talibés”.
“Enquanto Parlamento da Criança, tivemos um papel muito importante na criação da lei contra o tráfico de crianças e mutilações genitais femininas. Conseguimos, no nosso mandato, fazer com que a voz das crianças fosse ouvida em tudo que lhe dissesse respeito, porque nós estávamos sempre lá a pressionar, a bater nas costas dos políticos e dos decisores do país sobre a necessidade de tudo que tivesse a ver com a agenda nacional de desenvolvimento, a fim de que tivesse a criança como prioridade.
“Porque tendo a criança como prioridade, podemos construir uma nação e um Estado com futuro. E nós conseguimos pressionar, em todos os ângulos, o governo no sentido de criar uma agenda nacional da criança guineense, mas não tem sido possível tendo em conta a instabilidade cíclica na mudança dos governos, mas acreditamos que, com as esperanças renovadas, e depois destas eleições, vamos continuar a sua implementação”, disse.
No tocante a sua ONG “Dji tu tem”, ele explicou que é uma palavra de origem do criolo, que significa “resiliência” e que é possível construir-se um Estado, recuperarem-se valores da República, ser-se um país desenvolvido, construir-se “um país com que sempre sonhamos enquanto Guineenses”.
Indicou igualmente que a ONG foi criada no âmbito das acções de parlamentares infantis.
“Saímos do Parlamento e criamos esta ONG para trabalharmos sobretudo no âmbito da educação. Elegemos a educação para atingirmos o pico de educação que nós queremos, Vemos a educação como uma questão transversal que pode mudar a Guiné- Bissau nos sentidos económico, social e político”, avançou.
“Porque votando nas pessoas com menos nível de educação traz sempre dificuldades. Elas não sabem diferenciar as eleições legislativas das presidenciais, não sabem do valor do seu voto e não sabem dos seus direito e deveres, nem sabem o que é a cidadania que nós definimos como os direitos que nós temos e que são inalienáveis e os deveres que nós temos enquanto cidadãos que são os de cumprirmos com as normas do Estado e votarmos quando necessário, mas temos também de exigir do governo o cumprimento das regras estipuladas”, considerou.
Mas num país frágil como a Guiné-Bissau, lamentou, tem sido difícil o povo entender isso e a nossa organização actua nesta área, incentivando também a educação.
“Somos exemplos de que a educação pode mudar uma sociedade e a vida de uma pessoa. Nós somos um grupo de condições sociais baixas que dependem das rendas dos pais, não tiveram a oportunidade de estudar naquela altura, não têm curso superior e têm seus filhos e estão determinados a mudar o paradigma do país e, nesta nossa luta, aprendemos que a escola é a principal ferramenta para mudarmos o nosso país e a educação sobretudo. Conseguimos ter a nossa afirmação social e decidimos passar o nosso exemplo a outros jovens, através desta ONG”, pormenorizou.
Sobre o seu currículo escolar, ele indicou estar a terminar um curso superior de ciências políticas e de relações internacionais, na Universidade Lusófona.
Sekou Sumani Sidibé, nascido em Bissau há 24 anos, é actualmente coordenador do movimento “República dos meninos da Guiné Bissau” e assessor do presidente da Assembleia Nacional da Guiné-Bissau para a Área da Juventude e da Criança.
A sua estada em Angola inscreve-se no âmbito dos preparativos dum fórum infanto-juvenil da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) a ocorrer brevemente, em São Tomé e Príncipe.
Sobre este Forum Infanto-Juvenil da CPLP, ele indicou que se trata de um projecto iniciado em 2018 em Portugal, e que a primeira edição ocorreu na Universidade do Aveiro, no mesmo país.
“Neste ano, fomos desafiados pela CPLP a realizar o fórum em São Tomé e Principe. No ano passado, foi um evento da CPLP, mas fora do âmbito da CPLP, enquanto organização. Este ano, sendo um evento da CPLP, enquanto organização, será necessário cumprirem-se algumas normas estatutárias. A norma estatutária da CPLP diz que um Estado membro deve propor um projecto à reunião dos ministros da Juventude, por se tratar de um Parlamento Infanto-Juvenil, e a reunião dos ministros vai aprovar o projecto do fórum”, informou.
Afirmou igualmente que a mesma reunião terá lugar no dia 20 de Novembro próximo.
“No mês de Maio deste ano, estive em São Tomé. Tive uma reunião com o ministro da Juventude e propus ao ministro a organização do fórum. O ministro, que é também presidente da conferência dos ministros da Juventude da CPLP, aceitou-o e o próprio governo de São Tomé esteve muito aberto para acolher o fórum”, prosseguiu.
Afirmou que a CPLP, através da reunião dos ministros, vai aprovar o fórum, dando assim luz verde para a concretização deste evento que já será a segunda edição e cujo objectivo é juntar crianças e jovens da CPLP no processo de intercâmbio, de troca de experiências e, sobretudo, de fortificação dos laços.
A seu ver, o encontro é essencial para a comunidade lusófona, onde mais de 60 por cento de jovens representa a maior parte da população.
“Queremos acreditar que o futuro da CPLP passa pelos jovens e pela fortificação de laços entre os povos que são irmãos e vão continuar com a nossa irmandade”, concluiu Sidibé.
Seco disse ter estado na primeira edição do forum na Universidade de Aveiro, expressando ao mesmo tempo a sua determinação a mobilizar seus colegas para a segunda edição do fórum em São Tomé e Príncipe.
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