Crónica de Dorivaldo Caetano
Após visita de trabalho à província do Uíge, no percurso de volta para casa nada saltou-me às vistas.
A manhã fria na Terra do Bago Vermelho convidava-nos para um café. In dúbio se era da Terra, saboreamo-lo na mesma. Era o renovar das energias para enfrentar os mais de 340 km até Luanda.
Descidas e subidas acentuadas em 10% juntam-se às curvas. E, em cada curva uma paisagem oferecida pela natureza, que é de encher olhos. Os arbustos e suas reluzentes flores amarelas foram fiéis companheiras. Faziam muros perfeitos ao longo da estrada.
Em cada curva, muitas delas de 90 e 180 graus, um aperto no coração. Reduzir a velocidade era opção favorável. Não fazer parte das estatísticas era a máxima subjectiva.
Em cada curva, em vilas ou aldeias, a visível precariedade desvanecia com a alegria de algumas crianças. Há esperança e estudar é um luxo. As batas brancas brilhavam no meio das casas de barro e no meio do verde.
A estrada é boa. Os poucos buracos disfarçados nas curvas e em sombras reanimavam os corpos. Eram “turbulências em terra”, aliás, em terra firme. E esse reanimar de corpos fez-me ver mais uma vez a casa dos antigos cantoneiros, que na época colonial asseguravam a manutenção das Estradas Nacionais. Hoje, sem cor definida e destruídas, ficam apenas para histórias como esta.
Aparentemente sem muitas opções do que fazer, a vida parecia ser activa. Homens e mulheres com catanas e fisgas a mão caminhavam mata a dentro. A floresta é densa e oferece mais do que poderíamos ver a partir da estrada. Quilómetros depois, pequenas praças: produtos do campo, carne de caça e maruvo.
Seguíamos estrada e a placa de “Boas-Vindas” era sinal de que para trás ficava as curvas e descidas, os arbustos e a temperatura amena. A floresta densa já dava lugar à savana. Era o Uíge a dar lugar ao Bengo, que nos trazia à Luanda.