Por: Manuel Ngunza
A meta número dois dos Objectivo de Desenvolvimento Sustentável, é Fome Zero, mas as estatísticas contrariam a vontades. De zero para cerca de 800 milhões em todo o mundo.
A covid-19 atirou para o limiar crítico da fome mais 132 milhões. Segundo dados da FAO que assinala nesta sexta-feira, o dia Mundial da Alimentação, o mundo corre o risco de não atingir mais o Objectivo de Desenvolvimento Sustentável, número 2, sobre Fome Zero.
Este é o resultado do relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo de 2020, lançado está semana, em Roma.
O dia 16 de Outubro marca o dia da fundação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em 1945.
A celebração do Dia Mundial da Alimentação foi estabelecida em Novembro de 1979 pelos países membros na 20ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Neste dia realizam-se muitas actividades relacionadas com a nutrição e a alimentação, com a participação de cerca de 150 países, incluindo Angola.
A data visa alertar para a necessidade da produção alimentar e reforçar a necessidade de parcerias a vários níveis, bem como consciencializar para a problemática da fome, pobreza e desnutrição no mundo.
Estima-se que o número de habitantes do planeta vai ultrapassar os nove bilhões de pessoas em 2050 e que a produção mundial de alimentos vai ter de aumentar em 60% para conseguir dar resposta às necessidades alimentares da população mundial.
Marta Loneke é Educador Social, falando em exclusivo para o Repórter Angola, recordar que em 2019, dois bilhões de pessoas (pouco menos de 30% do total) não tiveram acesso regular a alimentos seguros, nutritivos e suficientes. Com certeza, nesse ritmo, o Objectivo Fome Zero (isto é, o plano lançado em 2015 pelo Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas com o intuito de acabar com a insegurança alimentar até 2030) não será alcançado, disse.
Neste particular, a FAO tem a mesma interpretação e, acredita que, se a tendência actual continuar, em 2030 o número de pessoas desnutridas poderá ultrapassar 840 milhões, ou seja, 9,8% da população que se estima viverá no planeta daqui a dez anos.
No cenário apresentado no relatório da ONU, mais uma vez surgem graves desigualdades geográficas. Os dados relativos às crianças menores de cinco anos são emblemáticos: por um lado, o número assustador de crianças malnutridas (144 milhões, 21,3% do total em nível mundial), por outro, de crianças obesas (mais de 38 milhões, 5,6%).
A também Docente Universitária, reconhece que “o sucesso da iniciativa depende de inovação e investimento para acelerar a transformação agroalimentar e o desenvolvimento rural sustentável, especialmente em países onde as capacidades nacionais e o apoio internacional são limitados ou onde a população é vulnerável a desastres ou conflitos naturais”.
Em mensagem, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a conclusão do relatório era clara. Segundo ele, “se a tendência anual não for revertida, o segundo Objectivo de Desenvolvimento Sustentável, Fome Zero, não será alcançado até 2030.” Para o chefe da ONU, “a transformação tem de começar agora” e, por isso, ele está a marcar um Encontro de Cúpula sobre Sistemas Alimentares para 2021.
O Director-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Genebra, Tedros Ghebreyesus, disse que agência recebeu marca recorde de novas contaminações no domingo com 230 mil casos; Américas concentram metade de todas as infecções com Covid-19; mais de um milhão de pessoas morreram da doença e mais trinta e sete milhões foram infectadas.
O relatório da ONU ressalta a evolução dos países lusófonos em várias áreas, como desnutrição e obesidade, entre os períodos de 2004-2006 a 2017-2019.
Angola reduziu a percentagem da população com desnutrição de 52,2% para 18,6%.
No Brasil, 4,1% da população era desnutrida em 2004-2006, a taxa baixou para menos de 2,5%. Já a obesidade, por outro lado, passou de 20,1% para 22,1%. A pesquisa estima que os custos de saúde relacionados com a obesidade no país devem passar de US$ 5,8 bilhão em 2010 para US$ 10,1 bilhão em 2050.
Em Moçambique, a insegurança alimentar teve uma ligeira descida de 33,4% para 32,6%. Em Cabo Verde, a insegurança alimentara aumentou de 11,1% para 18,5%, no mesmo período, e a obesidade cresceu de 10,3% para 11,8%.
O país de língua portuguesa no sudeste da Ásia, Timor-Leste, conseguiu reduzir a insegurança alimentar de 32,3% para 30,9%, mas a obesidade teve leve alta de 2,9% para 3,8%. Em São Tomé e Príncipe, a fome aumentou 9,2% para 12%, e o mesmo aconteceu com a obesidade, que afecta agora 12,4% dos adultos contra 10,7%, no passado.
Segundo o relatório, uma mudança global para dietas saudáveis ajudaria a combater o problema da fome e custaria menos dinheiro.
Em 2030, os custos de saúde associados a dietas não saudáveis devem chegar a US$ 1,3 triliões por ano. Já o valor social relacionado às emissões de gases de efeito estufa, estimado em US $ 1,7 triliões pode ser reduzido em quase 75%.
A Ásia continua acolhendo o maior número de desnutridos, 381 milhões, seguida pela África, 250 milhões, e América Latina e Caribe, 48 milhões. Em termos relativos, existem grandes disparidades regionais. A África é a área mais atingida e o fosso está aumentando, com 19,1% de sua população desnutrida. O valor representa mais que o dobro da taxa na Ásia, 8,3%, e América Latina e no Caribe, 7,4%. Se a tendência continuar, em 2030 o continente africano terá mais da metade de todos os casos de fome crónica do mundo.