A existência de um enorme potencial turístico nas 18 províncias é inequívoca, mas os grandes desafios da nova Angola, que se abre ao investimento privado, sobretudo no turismo, estão ligados à confiança, leis e infra-estruturas, condições indispensáveis para a atracção de operadores e cadeias turísticas internacionais.
Ao acolher, de 23 a 25 de Maio deste ano, o Fórum Mundial do Turismo (WTF, sigla em inglês), Angola dá mais sinal evidente, depois da facilitação e isenção de vistos em 2018, no sentido da “confidencebuilding” – construção da confiança para investidores.
A construção da confiança, como afirma o director para África do Fórum Mundial do Turismo, Danilo Nhantomo, é o primeiro elemento antes de se lançar investimento tangível no domínio turístico, e o “WTF Angola 2019” é uma promoção da confiança, isto é, da imagem positiva de Angola.
O evento, a realizar-se no HTCA, cidade do Talatona, a Sul da urbe de Luanda, vai movimentar, como calcula a organização, pelo menos mil e 500 pessoas de várias partes do mundo, homens que vêm a Angola para participar, fazer turismo e obter informações sobre as condições e as oportunidades de negócios no país.
Com a visão na sua promoção, Angola deverá, depois do fórum, investir em dois outros pilares fundamentais: leis e infra-estruturas, para que fique na rota do turismo em África, em particular, e no mundo, em geral.
Em relação ao primeiro pilar, coloca-se, além dos vistos já facilitados, a questão do repatriamento de dividendos dos investidores, um domínio que precisa de ser adequado aos interesses do país.
Seguida a esta matéria, está o investimento integrado em infra-estruturas – a terceira parte da estrutura do desenvolvimento turístico.
Neste sentido, a WTF, instituição a quem Angola pagou licença para a realização do fórum e mobilização de personalidades, vai ajudar o país, num período superior a cinco anos, na criação das condições, para que seja um destino preferencial de turistas e de investimentos.
Investimento a longo-prazo
A WTF estima que Angola venha a captar mil milhões de dólares norte-americanos em projectos de investimentos no turismo, num período não inferior a cinco anos – tempo de implementação do trabalho de desenvolvimento turístico, acordado entre o Estado angolano e a organização.
O montante em perspectiva, de acordo com a WTF, não será distribuído como uma doação, mas resultará dos investimentos em infra-estruturas turísticas e transversais, isto é, que concorram para o desenvolvimento do sector.
Projectos turísticos
No âmbito do Plano Director do Turismo, o Governo angolano lançou quatro Pólos de Desenvolvimento Turístico – três em 2011 e um em 2016, resultantes das especificidades e envolventes paisagísticas e turísticas de cada um.
Trata-se do Pólo de Desenvolvimento da “Bacia de Okavangho Zambeze”, na província do Cuando Cubango – o maior de Angola, com uma área total de 11 mil 972 hectares, e do “Cabo Ledo”, no município da Quiçama, província de Luanda (o menos extenso, com 1.390.3 hectares).
Junta-se a estes o Pólo de Desenvolvimento de “Calandula”, na província de Malanje (área total de 1.977.49 hectares), e do “Futungo de Belas e Mussulo”, o mais recente, criado em 2016, com uma área de 537 hectares, desde o largo da Corimba até à ponte do Benfica, província de Luanda.
Dos quatro projectos, apenas o “Okavango Zambeze”, designado KAZA, atravessa fronteiras, envolvendo Angola, Zâmbia, Zimbabwe, Namíbia e Botswana. Todos os países são atravessados por um rio que nasce no território nacional.
Estes projectos constituem uma oportunidade de negócios para o sector privado. É nestes espaços onde está o grande foco do Ministério do Turismo, segundo a ministra Ângela Bragança.
A ministra defende a implementação, nos pólos, de investimentos de qualidade que ajudem a atrair cadeias turísticas e potenciem o turismo interno.
Nesta senda, o director do Fórum Mundial do Turismo, o turco Bulut Bagci, disse, na terça-feira (21), existir muito interesse na Quiçama, por ser um local estratégico, e em Cabo Ledo, onde se prevê a construção de empreendimentos que incluam campo de Golfe.
Em relação a Luanda, avançou haver já em carteira um investimento previsto para o centro da cidade capital.
Produtos vendíveis
O que Angola deve oferecer para atrair turistas e investidores? Será que basta dizer que tem potencialidades turísticas?
Sobre as questões acima, a ministra Ângela Bragança defende que o primeiro produto vendível é a supressão de vistos, pois o turista não gosta deste tipo de barreiras.
A governante disse também, nesta terça-feira, num encontro com jornalistas, que é preciso vender a marca Angola, as sete maravilhas do país, os parques naturais, mas realçou a necessidade de melhoria das acessibilidades.
Realçou, de igual modo, a necessidade de se tornarem os preços dos hotéis acessíveis e criar condições que permitam ao turista o uso de cartões de créditos internacionais como Master Card, Visa e outros.
Contribuição do turismo no PIB
Actualmente, o sector do Turismo em Angola tem uma contribuição calculada em 3,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
O Ministério do Turismo entende ser uma cifra irrealista, por não revelar, efectivamente, os proventos proporcionados pelo sector nas mais diversas formas de contribuição.
Por isso, conforme Ângela Bragança, a 21 de Maio, foi assinado um acordo para melhorar esta estatística, porque tem que se fazer uma demonstração clara de quem é o turista.
A propósito do assunto, o secretário de Estado do Turismo, Alves Primo, afirmou acreditar que a contribuição do sector seja muito superior à cifra de 3,5 por cento, uma vez que o INE não calcula as diversas despesas que um turista faz quando chega a Angola.
“O INE calcula a contribuição do Turismo da mesma forma que faz com a contabilidade nacional, arrecadações de imposto de consumo ou industrial das empresas, que não é correcto e, nesse sentido, falta rigor”, fez saber Alves Primo.
Privatizações
O Fórum Mundial do Turismo vai ser aproveitado também pelo Governo angolano para a divulgação de empreendimentos públicos que o Estado pretende privatizar. É o caso de cinco hotéis situados nas províncias de Cabinda, Benguela, Huíla, Luanda e do Namibe.
Além destes empreendimentos hoteleiros, o Governo vai aproveitar o WTF para divulgar e promover outras áreas de investimentos como agricultura e energia e águas, a fim de potenciar a economia do país.
Programa de actividades
O Fórum Mundial do Turismo abre as portas hoje quinta-feira, às 9h:30, no HCTA, tendo como convidado de honra o Presidente da República, João Lourenço.
O evento vai abordar, entre outros temas, “O Turismo em África”, “Turismo Digital ou Informatizado”, “O Papel do Governo nas Viagens de Negócio”, “Porquê investir em Angola?” e “O segredo ou a História do Sucesso dos Destinos Turísticos”.
O Fórum Mundial do Turismo, que reúne em Luanda os líderes da indústria do turismo a nível do mundo, é uma organização global que realiza eventos do género, a fim de impulsionar o turismo global
O evento também presta atenção à relação entre as tendências do turismo local e global, bem como estratégias para um crescimento mais sustentável desta actividade e incentiva a alocação de recursos para uma visão compartilhada do segmento turístico.