O meu canto nas ondas da conectividade digital

Por: Celso Malavoloneke

Há cerca de quatro semanas estava por acaso no Lubango quando um dos meus “afilhados” – entenda-se Padres cujo percurso vou acompanhando desde o início da sua vida vocacional –, no caso o então Padre Joaquim Nhanganga Tyombe, natural da Cacula/Huíla, foi nomeado pelo Papa Francisco Bispo do Uíge. Alegria total! Ao telefonar-lhe para felicitá-lo, surpreendeu-me com um pedido: “Gostaria que cantasse na minha Missa de ordenação o Magnificat em Lumwíla que compôs há alguns anos para a Senhora do Monte. Pessoalmente, se possível…”. Encabulado e um pouco contrariado, afinal viajar de Luanda os três fins-de-semana que faltavam não era nada mole, mas… como dizer “não” a tão ilustre “noivo”? Lá aceitei.

No dia em que viajei para o Lubango, uma estação de televisão convidou-me para participar num debate em directo… via Zoom. Tive que fazê-lo a partir de lá e foi um desastre. O sinal da internet (o wi-fi do hotel) estava baixíssimo e caiu pelo menos três vezes, quase sempre quando estava a intervir. Senti-me frustrado, porque fiquei com a impressão que não tinha conseguido transmitir as minhas ideias, apesar da simpatia e profissionalismo do jornalista Daniel Nascimento que conduziu o debate. O bom do Daniel jurava a pés juntos que acabou correndo bem… e eu tipo já acreditei só.

No último ensaio para a Missa do Bispo, a tal em que ia cantar apareceu o “amigo do Facebook” Victor Presley com a sua página “Paróquia Virtual” e, assim de abuso, pediu-me uma “entrevista em directo”. Achei graça e dei, mas a verdade é que para o meu espanto, em menos de uma hora já estava a receber mensagens de amigos, até dos Estados Unidos, dizendo que tinham visto a minha entrevista e o cheirinho dos ensaios e que no dia seguinte seguiriam a Missa em directo por aquela plataforma virtual. Fui à minha página e de facto “se encontrei lá”, já com centenas de gostos e comentários, todos antecipando o dia seguinte.

Dia seguinte que de facto foi um show. Na ausência da cobertura em directo das nossas televisões, que é caríssima, a “Paróquia Virtual” ficou com o exclusivo. Fez a transmissão em directo das cinco horas e meia da Missa “urbi et orbi” (para o Lubango e o Mundo) com uma qualidade de imagem e som impressionantes, para cerca de 14 mil pessoas! Sem contar com as mais de 150 pessoas, incluindo eu, que a continuam a visualizar até ao momento em que escrevo estas linhas. Ao contrário de uma televisão convencional que necessita um carro de exteriores, uma equipa de 10 a 15 pessoas e um sinal satélite para fazer essa grande cobertura, o bom do Victor apenas precisou… dele próprio, um bom smartphone (já descobri que o melhor actualmente é o Huawei Mate 20 Pro)… e do sinal normal da internet do saldo de dados. Como neste dia o sinal comportou-se lindamente, a cerimónia ganhou uma cobertura que está até agora disponível para quem a queira visualizar, re-visualizar ou até gravar. Enquanto eu mesmo revia a Missa, ia pensando na tremenda revolução comunicacional que acontece e ainda está para acontecer com as novas tecnologias de informação e comunicação. Uma pessoa e um smartphone ligado à internet fizeram literalmente o mesmo trabalho que uma equipa completa de uma estação televisiva normal.

Isso remete-nos a duas reflexões, sem prejuízo de outras também importantes: a primeira, que se os órgãos de comunicação social tradicionais no nosso país não se reinventarem urgentemente correm o risco de serem irremediavelmente ultrapassados pelas novas plataformas de comunicação digitais, mais baratas, mais práticas, mais simples e mais rápidas; a segunda, que não vale a pena pensar na imposição de barreiras legais, institucionais ou financeiras para impedir o pleno acesso dos cidadãos à informação.

As novas tecnologias de informação e comunicação, cada vez mais baratas e simples de manusear, encarregaram-se de tornar isso literalmente impossível. Hoje mais que ontem e seguramente hoje menos que amanhã.

O que nos remete para os nossos crónicos problemas de conectividade. Há pouco mais de três semanas, a media internacional noticiou a apresentação em Londres, capital do Reino Unido, pela Huawei, de um projecto inovador nessa área a que chamaram “Rural Star Pro Solution”, Solução Pro Estrela Rural, em inglês. É uma torre simples que comporta uma solução tecnológica integrada, alimentada por dois painéis solares, que fornece sinal de dados, voz e rádio para comunidades de até 500 pessoas. Fáceis de instalar, já foram colocadas em centenas de áreas remotas em vários países de África, com destaque para a Nigéria e África do Sul. Asseguram os promotores que, enquanto o retorno do investimento das soluções tecnológicas tradicionais leva de 8 a 10 anos a acontecer, esta solução fá-lo em 3 a 4 anos. Uma certeza fica: resolveriam – e de que maneira – as dificuldades actuais de milhares de estudantes, profissionais de saúde e outros, os benefícios que hoje por hoje reconhece-se que a conectividade acarreta.

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