Os segredos por trás do império de Isabel dos Santos e as reacções aos resultados das investigações do consórcio de Jornalistas
Ivanine Silva
Uma “força tarefa” do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), tem realizado investigações em torno do império milionário de Isabel dos Santos, por todas as partes do mundo em que a empresária tenha passado e aberto uma empresa.
Divulgado recentemente pela Sic e o Expresso, cujos jornalistas também fazem parte do ICIJ, constituído por jornalistas de mais de 34 órgãos de comunicação, o Luanda Leaks, trouxe a público uma realidade não conhecida por muitos, a dos negócios “obscuros” feitos pela empresária e o seu marido Sindika Dokolo, antes, durante e depois da sua passagem pela petrolífera Sonangol E.P, onde liderou o conselho de administração.
Após a sua saída, uma auditória feita na multinacional angolana, aponta uma série de irregularidades contractuais na empresa, e após a divulgação de mais de 715 mil ficheiros e relacionado com a forma como Isabel dos Santos, construiu a fortuna que detém hoje.
De acordo a uma lista divulgada também pelo ICIJ, Isabel dos Santos e o marido, Sindika Dokolo, são proprietários de mais de 818 empresas, destas, 400 pertencentes exclusivamente à empresária, algumas existentes em paraísos ficais, outras sem qualquer ou apenas um funcionário, e deste número, algumas aparecem como sociedades constituídas pelos dois.
A empresária, considerada a mulher mais rica de África e Sindika Dokolo, têm os seus nomes inscritos nos registos públicos de mais de 35 países, onde tiveram ou ainda têm empresas até a altura, saltando a vista países como: Portugal, Brasil, Estados Unidos da América, Singapura, Holanda, Irlanda, Áustria, Itália, Espanha, Ilhas Virgens Britânicas, Malta, Roménia, República Checa, Hong Kong, India e muitos outros países.
Cerca de oito meses, foi o tempo que o ICIJ precisou para descobrir, como, quando e onde foi parar os milhões desviados da Sonangol, enquanto a filha de José Eduardo dos Santos, era PCA, cujos montantes transferidos, ultrapassavam muitas vezes os 800 mil Dólares ao mesmo tempo.
Isabel dos Santos, usou o seu Twitter oficial para de defender-se de todas as acusações que recaem sobre si e contrariar tudo quanto foi mostrado na reportagem Angola Leaks, com variadíssimos Tweets, onde é possível ler-se:
“30 órgão de comunicação mundiais alguma vez investigaram uma só pessoa? Campanha concertada
@SICNoticias sic televisão nunca me convidou . Parem de mentir”.
“Falam de “esquema” e pedem para ler 715 mil documentos?? É preciso 715 mil documentos para provar um esquema? Exagero!!Pura invencionice … pois no fim não dizem nada. Consultores pagos pra trabalhar na sonangol- quem não viu lá os consultores??”
“Até hoje, três anos depois, a própria Sonangol NUNCA se queixou de consultores de PMO e de seu trabalho ou honorários pagos. Por que o ICIJ está se esforçando tanto para “falsificar provas” que nenhum consultor do PMO trabalhou na Sonangol e os pagamentos foram falsos? Todos os dias, 130 consultores trabalham na Sonangol”.
“A minha “fortuna” nasceu com meu caracter,minha inteligência, educação, capacidade de trabalho, perseverança.Hoje com tristeza continuo a ver o “racismo” e “preconceito” da Sic e Expresso,fazendo recordar a era “colônias” em que nenhum africano pode valer o mesmo que um “Europeu””.
Diante de tudo que tem acontecido e depois de já acusado o governo angolano de estar a fazer uma “caça às bruxas” direccionada a si e a sua família, a empresária, acusou o jornalista e activista Rafael Marques, a quem acusa de ter recebido dinheiro de um dos accionistas da Unitel para sustentar acusações contra si e a antiga deputada do Parlamento Europeu, a quem acusou ter feito uma campanha politicamente motivada, negativa e falsa contra si, numa “batalha” entre ambas que já vem se arrastando desde 2019.
Por seu turno, Ana Gomes e Rafael Marques, dois dos dos principais pivôs da luta contra a corrupção e impunidade em Angola, já reagiram aos factos e provas produzidas pelo ICIJ, apresentadas na reportagem, em declarações ao Expresso, um dos órgãos cujos jornalistas fazem parte do consórcio.
Na reação a um tweet de Isabel, Ana Gomes, foi categórica em dizer: “É bonita, esperta, bem educada. Mas também é uma tremenda ladra do seu povo.”
Já Rafael Marques, em entrevista a Lusa, afirmou que “antes Isabel dos Santos era intocável em Portugal”, face aos documentos expostos pela investigação “não há como agora a PGR justificar” e vai ter de abrir um inquérito”.
Após o congelamento de algumas das suas contas e outros bens, em Angola e no exterior, foi também anunciado pelo “The Guardian” que o nome de Isabel dos Santos, foi retirado da lista de participantes da cimeira anual de Davos, um dos encontros económicos mais importantes do mundo, que é realizado na Suíça.
Sem qualquer esclarecimento de onde reside actualmente, a empresária que tem pendente um processo na PGR de Angola, poderá dentro de pouco tempo, ser novamente chamada a responder as notificações desta instituição, e segundo Hélder Pitta-Grós, em entrevista que consta da reportagem, Luanda Leaks, poderá ser emitido um mandato de busca contra Isabel dos Santos, caso seja aberto um processo crime.
Contudo, aguardam-se por mais esclarecimentos sobre este caso, já que Isabel dos Santos, deverá apresentar-se a justiça angolana, para responder a algumas das questões que pairam no ar, em torno do seu Império Milionário.
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