OGE 2020 revisado, expectativa e realidade
Por: Gilberto Segunda
O Orçamento Geral do Estado 2020 revisto e aprovado recentemente, visa sobretudo mitigar as consequências do ponto de vista económico que o país atravessa. A dura realidade imposta pela crise económica e sanitária mundial não tem mostrado sinais de abrandamento e em Angola em particular não é diferente.
O agravamento das dificuldades económicas que se reflectem todos os dias no crescente número de desemprego, inflação e pobreza extrema tendem a agravar-se com a circulação comunitária do novo coronavírus covid-19 e de certo modo, fica cada vez mais difícil encontrarmos um caminho que seja possível de contornar a actual realidade económica.
A aprovação do principal instrumento da política económica e financeiro do Estado (OGE) é imprescindível pois procura incorporar a actual conjuntura económico para que efetivamente esta seja a mais realistas possível.
Quando comparamos o OGE 2020 inicial, que previa uma taxa de crescimento de 1,8%, um saldo orçamental na ordem de 15 970,6 mil milhões de kwanzas baseado fundamentalmente na projecção inicial do preço do barril de petróleo em 55 USD e o OGE 2020 Revisto, nota-se claramente de que o orçamento revisado aproxima-se muito mais da realidade económica que vivemos hoje, pois assume uma contração do PIB real de (3,6%) que por sinal é a maior contração registada nos últimos anos, um saldo orçamental de 13 455,3 mil milhões de kwanzas impulsionado sobre tudo pela estimativa em baixa do preço do barril de petróleo em 33 USD e consequentemente uma dívida pública que tende a aumentar face a necessidade de financiamento do Estado e poderá mesmo chegar a atingir os níveis de 123% do PIB segundo dados oficiais. Estamos perante a um orçamento completamente deficitário que obriga uma dinâmica diferente nos próximos anos para sairmos dessa crise profunda.
Se por um lado estamos a ser fortemente afetados pelo impacto das variáveis internacionais nomeadamente a crise económica e sanitária global provocada pelo novo coronavírus bem como a crise no mercado petrolífero muito impulsionada pela guerra de preços entre a Rússia e a Arábia Saudita cuja as consequências afectam directamente a nossa economia por sermos economicamente dependentes do petróleo (cerca de 90% das nossas exportações totais estão relacionas a exportação do petróleo). Por outro lado, temos que olhar com sinceridade para os factores internos e assumirmos a responsabilidade dos fracassos sucessivos nas políticas de investimentos, dos anos anterior bem como nos projectos ineficientes que não foram capazes de preparar o país para situações económicas menos favoráveis.
Relativizar o problema e assumirmos a justificativa de que a situação económica que vivemos hoje é unicamente fruto da crise causada pelo novo coronavírus e da crise do preço do petróleo nos mercados internacionais, não é de todo uma verdade.
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Perfil
Gilberto Segunda, é formado em Economia e Gestão com especialização em Contabilidade e Finanças pela Universidade Jean Piaget. Actualmente trabalha como Contabilista e comentarista na Palanca Tv.
Email: gilbertosegunda@outlook.com
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