Carnaval de Luanda marca festividades dos 50 Anos de Independência Nacional
Notícias de Angola – A edição 2025 do Carnaval de Luanda que ocorre de 1 à 4 de Março, na Marginal da Praia do Bispo, está entre as festividades dos 50 anos de independência nacional, com foco no resgate de valores históricos e culturais.
Por Amilton Victor
A informação avançada pelo Secretário-geral da Associação Provincial do Carnaval de Luanda (APROCAL), António de Oliveira “Dellon”, que falava ao Notícias de Angola, a margem do ponto de situação dos preparativos que conta com a participação de 39 grupos ao desfile e da premiação dos cinco primeiros classificados em cada classe, nesta edição.
Para o primeiro dia do entrudo este reservado 15 grupos da classe infantil, o segundo dia, 13 grupos da classe B, e no terceiro, 11 grupos carnavalescos da classe A vão exibir-se, ao passo que o desfile municipal (bairros) será realizado no dia 4 de Março, com a previsão de divulgação dos resultados no dia 5, e a entrega dos prémios para o dia 8 do mesmo mês.
Grupo União Da Quiçama Vai Despedir-se Do Carnaval De Luanda embora faça parte, actualmente, da província de Icolo e Bengo, fruto da Divisão Político-administrativa recentemente realizada no país, o Grupo Carnavalesco União Povo da Quiçama ainda terá o privilégio de desfilar no carnaval de Luanda, edição 2025, garantiu o Secretário-geral da APROCAL.
Segundo o responsável, o União Povo da Quiçama, vai aproveitar esta edição especial para despedir-se do carnaval de Luanda.
Para tal, fez saber que além de desfilar no entrudo da capital, o mesmo grupo também vai participar do carnaval provincial de Icolo e Bengo, uma vez que é a principal referência carnavalesca desta nova província.
“Infelizmente a província de Luanda perdeu o grupo União Povo da Quiçama, mas tendo em conta a sua relevância histórica e cultural, bem como a sua trajectória inequívoca, a organização decidiu que o grupo deve despedir-se de forma honrosa, com um desfile, fazendo parte da classe de honra, embora venha a desfilar na província de Icolo e Bengo”, revelou.
Entrudo Angolano dos primórdios à Actualidade
Os Novos Desafios A maior manifestação cultural nacional vai estar sempre ligada à figura do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, que no discurso proferido a 27 de Março de 1978, no município do Cazenga “batizou” a festa do povo como sendo o “Carnaval da vitória”, para comemorar as vitórias conquistadas pelo povo angolano. “Vamos fazer o nosso Carnaval. Não o Carnaval dos tugas, que eram só bailes. Vamos dançar o nosso Carnaval nas ruas, como fazíamos antigamente”, disse na ocasião o fundador e Herói da Nação Angolana.Até hoje foram realizadas 46 edições do Carnaval, sendo que a primeira ocorreu na 5ª Avenida, no município do Cazenga.
Actualmente o entrudo tem como palco a Nova Marginal de Luanda, local onde os grupos carnavalescos desfilam com trajes tradicionais, acompanhados de carros alegóricos, ao som de batuques, reco-reco, marimba, latas, apitos e outros instrumentos musicais, sem deixar de parte as habituais danças Kazukuta, Kabetula e Semba.O vencedor da primeira edição, em 1978, foi o grupo União Operário Kabocomeu do Sambizanga, organização que se notabilizou pelo uso de indumentárias e sombrinhas pretas.O União Mundo da Ilha é o campeão dos campeões com 14 títulos conquistados.
Seguem-se na lista dos mais titulados o União Kiela com cinco prémios, o União 10 de Dezembro com quatro, o União Angola Independente e o União Sagrada Esperança com três troféus, respectivamente.
José Pedro, Director do Museu Nacional de Antropologia e uma das figuras que já esteve muito ligada ao carnaval, considera que o entrudo angolano atravessou momentos difíceis até a sua consolidação, devido ao período de guerra pós-independência.
“Em 1978 surge o Carnaval da Victória, mas isso não significa que não havia esta manifestação popular antes da independência. Havia sim, mas ao estilo europeu. Porém, o nosso carnaval passou por momentos críticos pelo período de guerra que tivemos. Nos anos 92 e 93, dada a uma certa paz, tivemos um momento de manifestação carnavalesca, mas que foi novamente interrompido. Só no pôs guerra civil, passamos para o processo de consolidação desta grande manifestação popular, isto é, a partir dos anos 2003, 2004, onde dão-se também o surgimento de novos grupos carnavalescos, como União Chá de Caxinde, União Sagrada Esperança, entre outros”José Pedro, recorda-se com bastante nostalgia da época em que o carnaval era festejado com muita euforia, nos bairros e ruas de Luanda. O mesmo diz que essa realidade mudou desde o momento em que começaram a surgir, em Angola, mais denominações religiosas que passaram a olhar para o entrudo, como uma festa pagã.“Outrora era assim, o carnaval começava pelos bairros. As pessoas se identificavam com esta festa, tudo parava e havia uns que se ultrajavam e pintavam para celebrarem. Não era apenas um simples feriado, como hoje se vê. Mas isso deve-se em parte, ao surgimento em massa de denominações religiosas, como é o caso das protestantes que passaram a marginalizar o carnaval como um evento pagão. Contudo, acho que o governo devia fazer mais para inverter este quadro. Hoje, parece que ninguém fala sobre o carnaval nas escolas, ninguém incentiva à valorização deste bem cultural”. Já Sidónio Domingos, Director do Museu Óscar Ribas e um dos rostos emblemáticos do teatro e das artes plásticas angolanas, conta que sua relação com o carnaval começou em 1995, tendo tido uma participação ativa de mais de duas décadas como pintor de bandeiras e confecionador de alegorias.
“A minha relação com o carnaval começou desde muito cedo, devido ao domínio das artes plásticas. Durante uma preparação nos anos 95, eu fui convidado para pintar as bandeiras de carnaval. Quem me descobre, foi o grupo União Kigila Maka. Depois passei a pintar para o União Povo, entre outros grupos. Para além da pintura, fui desafiado a fazer as alegorias de carnaval para vários grupos. E contribui com o meu trabalho até 2017, altura que dei um interregno devido aos trabalhos de museologia”.O também escritor, aponta, por outro lado, a necessidade de mais investimentos e incentivos nesta que é a maior manifestação popular angolana.“Penso que o nosso carnaval está bom, embora falte mais incentivo. Por se tratar da maior manifestação cultural do povo angolano, o Executivo devia criar mecanismos para alocar mais financiamento, no sentido de se ampliarem mais os prémios, para incentivar o próprio génio criativo.
Outrossim, O Ministério da Cultura e seus associados, como a APROCAL, deviam apostar também na formação técnica dos grupos carnavalescos, uma vez que ainda debatem-se muito com estas questões”.
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