ANGOLA – Uma sociedade em busca do salvador da Pátria
Por: Manuel Camalata
A busca por soluções mágicas, que possam melhorar o país, parece ser a preocução na cabeça da maioria dos angolanos, preocupados com oportunidades de emprego principalmente para a juventude, educação de qualidade e melhor atendimento na saúde, saneamento básico, eliminação da corrupção, redução do custo de vida, e uma infinidade de desejos e necessidades caracterizam o sentimento angolano nos últimos tempos.
Estas preocupações constituem, inevitavelmente, legítimos anseio dos cidadãos, que passados quase duas décadas depois da guerra civil, constinuam a sentir o abandono governamental, e por isso paira em nós a vontade de construirmos um novo futuro, comum a todo angolano. Sentimentos que nos traz tamanha esperança, e que algumas verdades não são seriamente vistas, o que acaba por se tornar numa armadilha para a sociedade, onde se proferem óptimos discursos, com promessas que soam como música aos ouvidos, porém vazios de reais intenções.
Se por um lado temos o presidente João Lourenço, com todo o suporte da máquina estatal ao seu lado, verbas e posição de prestígio para ser visto como uma boa opção a Angola, por outro lado, Adalberto Costa Júnior cavalga sua candidatura no deserto de liderança da oposição, arrebatando os corações dos ressentidos, dos humilhados e dos desesperançados. Por fora vem ainda o carismatico político Abel Chivukuvuku, que de todas as formas, tenta o seu lugar ao sol, mas que está difícil vislumbrar a certeza de qual as suas propostas, pois nem um partido politico definido tem.
Portanto, a busca do país é por um Salvador da Pátria, alguém que assuma a Presidência da República e dê solução a todos os problemas e mazelas. Uma busca que pode ser mais perigosa do que parece. É preciso analisar o que há de inconsciente por trás desse fenômeno. Os futuros candidatos têm discursos associados a grupos de ressentimento, pessoas que se sentem ameaçadas, no fim, uma política simplista de fácil agrado à maioria.
Ultimamente o advento das redes sociais tem permitido que o campo de batalha seja compartilhado por todos, onde qualquer um tem o poder de dar voz, o poder de ser ouvido, o poder de criar sua própria audiência, agora independente dos meios de comunicação tradicionais (televisão – rádio – jornal). Isso é, em nosso entender, óptimo para o processo da democracia, porém ainda muito novo para sabermos lidar com o volume de informação, e principalmente pelo facto de ainda não termos uma educação de base forte que nos permitiria, a todos, ler e interpretar textos e consequentemente, pensar com a nossa própria cabeça.
No fim, e apesar das críticas que recorrentemente se fazem às redes sociais, elas estão entupidas de verdades, mentiras, críticas e anedotas de todas as ordens e emblemas, com a perspectiva de eleger algum dos nobres representantes da política angolana, que, há tempos, provam que seus interesses estão mais vinculados à manutenção de seus benefícios, que com o interesse de facto, do povo.
O que estamos vivendo, é resultado das ansiedades e incertezas presentes no inconsciente global. Assim, para que exista uma coesão grupal, reforça-se a ideia de um inimigo em comum, onde todos, num laço de fraternidade encontram-se fortalecidos no ódio a determinada causa.
Toda essa intolerância, aversão, e sentimento de capacidade de julgamento, trazem a convicção de que os outros são culpados e os ideais justificam os meios. Deste modo, a figura de um salvador ganha espaço e força na mente humana como alvo dessas projeções. Como fonte de energia para essa ação, esse mito quando presente, incorpora ainda mais sua própria energia na mente humana.
É como se a figura ocupasse o ideal que o sujeito quer para si, ou seja, quem ele escolheria ser na vida se assim fosse possível. Dessa forma, com facilidade, seduz a população em desalento. Por razão, à população deve ser dada as ferramentas cognitivas que o permitam interpretar os fenómenos e intenções politicos que o permitam fazer uma boa interpretação. E por que? porque quando os eleitores escolhem candidatos que normalmente não escolheriam, as consequências negativas são duradouras. O problema com os salvadores é que, mais cedo ou mais tarde, os países têm que tentar se salvar deles.
Manuel Camalata, É Jornalista, Produtor e Editor no programa A Voz da Comunidade da Rádio Eclésia em Luanda.
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