A primeira-ministra britânica, Theresa May, e o presidente francês, Emmanuel Macron, enfrentaram nesta segunda-feira (16), as críticas da oposição de seus respectivos parlamentos por causa da operação militar contra a Síria, que não teve apoio unânime.
May compareceu ante os deputados para explicar sua posição, em um país ainda marcado pela desastrosa invasão do Iraque em 2003 e sua posterior ocupação, que acabou na morte de 179 soldados britânicos e manchou o legado do então premiê, o trabalhista Tony Blair.
“Não recebemos ordens dos Estados Unidos. Permitam-me ser absolutamente clara: agimos porque era de interesse nacional”, afirmou.
“Porque não podemos permitir que se normalize o uso de armas químicas, nem na Síria, nem nas ruas do Reino Unido”, acrescentou, aludindo ao atentado contra um ex-espião russo em solo inglês.
“A velocidade com que atuamos era essencial para o sucesso da operação”, disse, ainda, explicando por que não consultou o Parlamento.
Segundo a primeira-ministra, os ataques pretenderam enviar uma “mensagem clara” contra o uso de armas químicas, semanas depois de terem sido usadas contra o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha, Yulia, em um atentado que Londres atribui à Rússia, principal aliado da Síria.
A oposição britânica acusa May de seguir cegamente as ordens do presidente americano, Donald Trump.
“Theresa May deveria ter buscado a aprovação parlamentar invés de seguir Donald Trump”, afirmou o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn. “O Reino Unido tem de ter um papel de líder para conseguir um cessar-fogo, não obedecer as instruções de Washington”, acrescentou.
Na França, a Assembleia Nacional começou a debater a participação do país na operação do final de semana.
“Nossa resposta estava amplamente justificada em suas causas. Em suas modalidades, foi cuidadosamente proporcional”, disse nesta segunda-feira o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, no debate no parlamento sobre a intervenção de sábado, classificada por ele como um “êxito”.
“Enviamos, assim, uma mensagem firme, uma mensagem clara, uma mensagem forte”, afirmou Philippe. “Queremos dizer que uma vitória militar não pode ser alcançada impunemente com o uso de armas químicas”, insistiu.
O primeiro-ministro defendeu a decisão “difícil, legítima”, de Emmanuel Macron, assegurando que antes “de ter recorrido à força, fomos até o final do diálogo político e diplomático para convencer Damasco”.
Os ataques de sexta para sábado na Síria foram a primeira operação militar de envergadura ordenada pelo presidente Emmanuel Macron, que assumiu há menos de um ano.
Em 2017, disse que o uso de armas químicas seria para ele uma “linha vermelha” que levaria a “uma resposta imediata”.
Falando à imprensa em Paris, Macron disse que os ataques têm “legitimidade internacional”, apesar de não estarem amparados por uma resolução da ONU.
Apesar disso, Macron foi criticado pela esquerda e pela direita.
A líder da Frente Nacional, direita radical, Marine Le Pen, o acusou de não ter demonstrado qualquer prova do uso de armas químicas na Síria, crítica à qual se uniu Jean-Luc Melenchon, que encabeça o partido de extrema-esquerda França Insubmissa, e o líder centrista Laurent Wauquiez.
“O presidente da República sabe muito bem que violou o direito internacional, e tenta inventar uma narrativa de legitimidade internacional”, acusou Marine Le Pen.