Vergonha se deveria ter, quando se mente alguém, pois cegamente ficamos a desconhecer duas realidades: mentir a nós mesmo e cavar o nosso próprio buraco.
Vergonha se deveria ter, quando roubamos, enganamos e pensamos que cinco kwanzas é insignificante para o bolso do seu dono.
Vergonha se deveria ter ainda, termos estudantes universitários que não passam de cambatas de cabuladores, sem a coragem de fazer uma prova em ambiente isolado e dispensar o caderno ou ajuda de terceiros.
Vergonha se deveria ter, um homem a atrasar-se num evento e depois, com toda frieza pergunta: oh, não começaram? Comé, já começou?
Vergonha se deveria ter, ver homens a defender a luta contra o racismo, quando nas festas vêem-se os brancos sentados dum lado e os negros doutro lado.
Vergonha se deveria ter, uma nação transformar-se num grupo coral, onde o regente é o álcool e o evangelista é a tv e a rádio.
Vergonha é ver um país cujos filhos chamam de evolução o andar nus nas ruas, é ver um país que limita a liberdade de expressão oral do seu povo e não produz leis que sancionem as pessoas que andam nuas nas ruas, é ver um país a lamentar os índices de mulheres violadas ao mesmo tempo que deixa de elaborar leis que as limitem andar nuas nas ruas e a hora que quiserem.
É ver uma nação a baixar o preço das drogas, abrir fábricas de bebidas e inflacionar a educação, a saúde, os bens da primeira necessidade e sair a lamentar o índice de delinquência na sociedade. É limitar o crescimento e a evolução do próximo, é, sim, granjear na vida em detrimento do próximo. É negar a nossa condição de pobre, betumando-a com discursos de um príncipe, de uma rainha, é termos vergonha de exibir os nossos pais, a nossa humilde casa, é subordinarmo-nos aos caprichos do capitalismo.
Vergonha se deveria ter, um gatunos entre os que procuram gatunos, protagonistas de crimes entre os que decidem o lugar dos criminosos. Vergonha se deveria ter, ter vergonha de coisas que só conferem dignidade.
Vergonha se deveria ter, denegrir a imagem de um homem junto da sua mulher, fazendo-nos transparecer os melhores a amar e cuidar as mulheres dos outros, quando as nossas padecem em casa, dissolvendo por desprezo, todo um brilho que tiveram, antes de caírem nas nossas mãos.
Ter-se-ia, transferindo os erros das mulheres e atribui-las aos homens. Ignorar a barbaridade de que são capazes as mulheres e achar que o homem é de todo o culpado do que acontece com elas. Vergonha deveria se ter, contrariar a afirmação delas que dão conta do quanto são capazes de fazer e provocar o mal, só para darmos uma de bons cavalheiros perante o público e buscar o sim delas.
Vergonha se deveria ter, fazer das mulheres objectos de propagandas baratas, metê-las andar nuas, por uma simples garrafa de bebida. Delas viémos todos nós. Alguém conhece um país, onde as fontes dos melhores recursos naturais são vistas com facilidade e com menos sacrifícios?
Vergonha se deveria ter, quando deixamos de dar honras às mulheres honradas, castas, lutadoras e sofredoras e atribuímos às “quimbwebwequeces” toda uma devoção, um lar imerecido.
Vergonha se deveria ter, quando uma mulher abdica-se de roupas decentes, optando pela indecente, para atender a um convite dum programa de tv.
Vergonha se deveria ter, quando um programa de tv dá mais primazia aos promotores de prostituição de elite. Vergonha se deveria ter, a capacidade de muitos artistas de matar os bons valores, vergonha se deveria ter, quando os agentes culturais confundem liberdade cultural com a libertinagem cultural.
Vergonha se deveria ter, uma nação apostar na democratização da burrice e retarda-se na que permite a transformação total da consciência, sob pretesto de que as grandes nações não se constituíram em pouco tempo.
Vergonha se deveria ter, ter vergonha de coisas que não dão vergonha, pelo contrário, dão dignidade, e, isto é dignidade, valor, virtudes que, claro, só os sábios entendem!
Por: Camilo Lemos