Por: Celso Malavoloneke
Sonhei esta noite com o “cinco de Fevereiro”. Nos nossos tempos do antanho que não é ainda tão antanho assim, o “quatro de Fevereiro” era passa os vôos internacionais. Nós que íamos “às Províncias” – Luanda não era “Província”, era “a Capital” e a sede era a Mutamba – nem púnhamos lá os pés. Só os filhos dos “mwatas” é que iam lá comprar cigarros Marlboro, uísque Chivas e perfumes de Paris para nos estilar com eles. Nós mbôra nos atiravam no terminal doméstico onde íamos apanhar o 737 prá voltar na bwala e levávamos queda porque os Wís da TAAG vendiam mais bilhetes que lugares. Mas prontos, sonhei então com o “cinco de Fevereiro”.
Só que no meu sonho o velho “cinco de Fevereiro” estava outra coisa. Totalmente conectado a 5G, milhões de viajantes e cargas passavam por portões e autocarros que faziam tudo sozinhos. Tipo kazumbís, os portões abriam e fechavam sozinhos, os autocarros andavam sem motorista conduzir, o check in era só virar a chipala no espelho e encostar o telelé com o bilhete na maquineta e o computas registava tudo: que eu quero ir para o Lubas City, a minha sala de embarque e tal, o portão de embarque outro tal, o avião é xis, a minha cadeira é ípsone. A bicha era só andar, bem rápida, as pessoas andavam desde a entrada até à escada do avião nem viam um funcionário sequer. Distraído me perdi cheguei na porta errada, o sensor me reconheceu e o alto-falante na fechadura me berrou: “xé, papoite o portão que vais mbôra bocoar é aquele que passaste”…
Fiquei mbôra bwamado. Na minha cachimónia de atrasado da província, para mim viagem é ir para o aeroporto, dar gasosa no guarda da porta para entar, discutir na bicha do check in, aturar a cara feia dos funcionários da TAAG (quando não te dizem que mesmo com ok o vôo está cheio). Mostrar o BI, a Guia de Marcha, responder ao agente do SME que sou mesmo mwangolé do Kuvangu, esperar bwé de tempo na sala de embarque sem ar condicionado e cheia de barulho, “se lutar” para entrar no autocarro, “se lutar” outra vez para entrar no avião.
Nada, no “cinco de Fevereiro” do meu sonho não era nada disso. Tudo nos trinques, tudo funcionava sozinho (por isso é que funcionava porque se entrasse aí a confusão dos manos da TAAG, miuxxx!) parecíamos todos tipo já bosses da “primeira classe”. Porque era tudo digital, grandes mundos, era a tal chamada “cinco dimensões”…
Xé! Aquilo até metia medo. O autocarro sem motorista sabia qual era o avião onde tínhamos que ir. A tal Cinco Gi? – a Dimensões ajudava na programação do trajecto. Era tipo no Céu, o autocarro pára aqui para deixar passar uma cisterna de combustível, pára ali para dar prioridade a outro autocarro, para acolá para uma carrinha de catering passar. E tudo bem rápido. Tudo isso sem os manos da TAAG, nem da ENANA nenhum dos wís que vemos sempre com aqueles coletes de polícia trânsito no aeroporto. Era tudo digital, era tudo cinco dimensões, era tudo 5 D.
De repente acordei. Não era nada “cinco dimensões”, era mesmo o nosso “cinco de Fevereiro”. Qual digital, qualulá. Li algures que lá na China o aeroporto de Shengzen é o tal que anda na boca do mundo porque tudo é feito digital e eu já me assanhei sonhar a mesma coisa para o nosso velho “Cinco”. Nem já!
Mas como sonhar não custa dinheiro, um dia ainda também vamos ter o 5D aqui na banda. Sim, nesta nossa Angola dos Mangopes. Porque aqui nós da banda “nó mayamos”… vão se assustar, já está! O Nguvulu já meteu kumbú no mambo, chamou a Huawei que fez o tal aeroporto que está nas bocas do Mundo e o nosso velho “Cinco de Fevereiro ficou “Cinco Gí”. Vão ver…
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Fonte: Novo Jornal