Por: Nambi Wanderley
Diariamente, tem sido notória a movimentação de dezenas de crianças pelas calçadas e estradas da centralidade do Kilamba, muitas delas em grupos e desprotegidas, que de prédio em prédio e de carro em carro, pedem por dinheiro e alimentos, de modos a saciarem a sua fome e encontrarem algum sustento para a família, expostas à vários riscos.
Três adolescentes que residem num dos bairros adjacentes à Centralidade do Kilamba, denominado “Cinco Fio”, em um casebre de chapa feito num terreno do qual a família cuida, com os país e mais dois irmãos, totalizando sete pessoas, no curto espaço, conforme contaram as irmãs de nomes fictícios Paula, Josefa e Carlinha, à equipa do Notícias de Angola (NA) e partilharam algumas das principais dificuldades que atravessam e que às levam para as ruas em busca de alimentos.
Com apenas 16 anos de idade, Paula encontra-se grávida de sete meses e não conta com o apoio da família do jovem de que à engravidou, da qual só recebeu cinco mil kwanzas desde o início da gestação, a adolescente fez até ao momento apenas uma consulta pré-natal. Por sentirem falta de quase tudo, as adolescentes são obrigadas a saírem para a rua e pedirem ajuda, já que “há dias em que ficamos sem ter nada para cozinhar”, revelou Paula.
Sem a presença do pai que trabalha numa empresa de segurança privada, onde, segundo a adolescente, está a cerca de um mês a trabalhar em regime de quarentena, e com a mãe sem poder trabalhar por estar adoentada, as meninas assumiram o sustento de casa com o que trazem da rua, mesmo com os riscos aos quais estão expostas, até mesmo de serem contaminadas pela covid-19, por não observarem as medidas de protecção individual.
“Não estamos a usar máscaras porque não temos dinheiro para comprar, também não podemos ficar em casa e morrer de fome, sabemos que estamos a correr perigo ao andar pelas ruas da centralidade do Kilamba, mais que vamos fazer?”, questionu.
Celebra-se hoje, 1 de Junho, o dia mundial da criança, as irmãs relataram, que têm celebrado a efeméride num ambiente festivo e divertido na escola, o que este ano será diferente pela actual conjuntura que o país vive. Por fim, as crianças deixaram um pedido de ajuda “este ano queremos que o Governo faça chegar comida a todas crianças que não têm o que comer”. Pediram também que as aulas não sejam retomadas enquanto a pandemia no país, não estiver controlada.
A Centralidade do Kilamba foi inaugurada em 2011, tem mais de 20 mil apartamentos, distribuídos em 710 edifícios, projectados para albergar cerca de 120 mil habitantes e recebe diariamente outras várias centenas, entre estudantes, trabalhadores e pedintes.