Mais de 1.000 milhões de euros prometem mudar a marginal sul de Luanda a partir de 2018, mas enquanto as obras não começam quem faz vida entre o lixo e a pesca na Corimba não esconde a ansiedade e apreensão.
A nova marginal vai nascer num litoral de 10 quilómetros, a sul de Luanda, e servirá para a construção da autoestrada da Marginal da Corimba, além de um porto de pesca, marina e áreas de lazer e turismo.
Para garantir o crescimento urbanístico numa área atualmente densamente ocupada por musseques e outras construções anárquicas está ainda prevista uma obra para conquistar ao mar 400 hectares de terreno.
Parte da Corimba, um vasto areal que se prolonga para sul do centro de Luanda, outrora de praias emblemáticas, é hoje ocupada por praças de venda de peixe que sustentam centenas de famílias, como a Mabunda.
Ali, barracas improvisadas foram construídas ao longo dos anos na areia, por entre o lixo que agora flutua nas águas agitadas que banham a praia, com dezenas de pequenos barcos de pesca, ancorados, em pano de fundo.
América Joaquim tem 55 anos e há três décadas que vende peixe na praia da Mabunda, negócio com que criou os quatro filhos. Admite que a zona mudou muito, para pior, nos últimos anos, sobretudo com a poluição e valas de lixo, ao mesmo tempo que se diz ansiosa com o início das obras.
“Agora está mais ou menos. Bem, bem não está, porque ainda não nos deram os sítios onde vamos ficar, mas estamos conscientes que aqui vai passar a nova marginal, por isso agora é uma situação provisória”, assume.
A requalificação da marginal promete mudar drasticamente o rosto da Corimba e, além das infraestruturas públicas, o Governo angolano já atribuiu em setembro a concessão, por 60 anos e cerca de 130 milhões de euros, dos terrenos para imobiliário.
Contudo, quem ali vende ainda não sabe para onde vai trabalhar, durante e após as obras, apesar de as autoridades já terem feito o levantamento das barracas existentes, para recolocação.
“Vamos ver para onde nos vão empurrar. Estou ansiosa”, relata América.
Nestas dezenas de barracas vende-se todo o tipo de peixe que os pescadores, como os do “Santa Rita”, descarregam diariamente no areal. Sebastião Raul, de 35 anos, é um dos 30 marinheiros da tripulação daquele barco, que pesca até às 30 milhas ao largo de Luanda.
Como todos que dependem da Corimba, está por estes dias expectante e ansioso com o que será a obra, até porque é com a pesca, a que se dedica há 17 anos, que sustenta os cinco filhos.
“Depende onde o Governo vai meter os barcos. Há muita gente a depender da pesca”, explica, depois de um dia de faina que rendeu sobretudo sardinha e carapau.
Ainda assim, e mesmo sem conhecer o projecto final, garante que a obra é desejada: “A praia está tão suja, que a obra vai servir para melhorar, o povo vai agradecer”.
Valeriana Cândido, de 36 anos, tem a barraca de bebidas na praia, negócio sustentado pela pesca e que, conta, chega para “ir vivendo”, desde que se mudou do Huambo para Luanda, quando tinha nove anos.
A barraca, construída com algumas tábuas e com uma arca frigorífica amovível no interior, foi incluída no levantamento já realizado, mas para já ninguém arrisca como será o futuro, depois da requalificação da Marginal da Corimba. “Já se vem falando há bastante tempo e por isso a gente está à espera. Quando começar a obra vamos ver como vai ficar”, diz, admitindo apreensão.
“Acreditamos que vai mudar e ficar melhorar. Atualmente, com a vala neste estado, não está bom”, desabafa.
O marinheiro Alberto Armando, de 38 anos, deixou a província do Uíge e partiu para Luanda, com a família, devido à guerra civil, quando tinha apenas cinco anos. Hoje passa os dias pela Corimba, à espera pelo trabalho que surge para o dia, na pesca. Apesar do desânimo de não ter trabalho fixo, Alberto prefere acreditar que a obra será uma oportunidade para quem ali vive.
“As pessoas vão falando sem saber ao certo o que vai ser feito. Creio que coisa boa vai acontecer e todo o mundo vai beneficiar”, atira, ao mesmo tempo que reconhece a ansiedade que se sente na zona, sobre o futuro.
O gabinete holandês Royal HaskoningDHV foi escolhido pelas empresas responsáveis pela reabilitação da Marginal da Corimba, o consórcio formado pela Urbeinveste Projetos Imobiliários, da empresária Isabel dos Santos, e Van Oord Dredging and Marine Contrators, para elaborar o projeto técnico da obra, a realizar até 2019.
“A nova autoestrada reduzirá o congestionamento do tráfego e o novo porto de pesca proporcionará uma base melhorada e segura para os pescadores locais, um comércio vital em Angola”, explicou anteriormente o diretor da Royal HaskoningDHV, Gertjan Schaap.
Redacção NN