Ambientalista reconhece ganhos de Angola no sector 

Notícias de Angola – O desenvolvimento do projecto de conservação dos parques nacionais, das áreas protegidas e a aprovação de leis e regulamentos do sector do ambiente constituem ganhos consideráveis para Angola, que completa, em Novembro próximo, 50 anos de Independência.

Fonte:  ANGOP

Segundo o ambientalista Emerson Raposo, passos significativos foram dados, com destaque para a ratificação de vários acordos internacionais que têm ajudado para a credibilidade das políticas do país neste sector.

Em entrevista à ANGOP, no âmbito do Dia Nacional do Ambiente, assinalado a 31 de Janeiro, o especialista defendeu a adopção de uma estratégia de gestão capaz de ajudar a preservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, acautelar o desenvolvimento socieconómico do país.

Uma tal estratégia deve abranger os diversos sectores da sociedade e as empresas, com o desenvolvimento de normas firmes em prol da protecção dos animais, com maior presença nas comunidades rurais, onde a cada dia o conflito humanos vs animais está mais acentuado, disse.

Quanto à questão da gestão dos resíduos, Emerson Raposo considerou importante o desenvolvimento de uma avaliação sistemática, no sentido de promover competência e instituições capazes de fazer um reaproveitamento minucioso destes materiais de forma sustentável.

Eis a entrevista na íntegra:

ANGOP – Qual é o principal problema ambiental que Angola enfrenta?

Emerson Raposo (ER) – Angola tem enfrentado enormes desafios do ponto de vista ambiental, com acelerado desmatamento, exploração inadvertida de recursos naturais, bem como a inadequada gestão de resíduos, mas, acima disto, destaco a falta de consciencialização da população, pois a inexistência de informação acaba por promover as más práticas sociais.

ANGOP – Que medidas o Governo deve tomar para proteger o meio ambiente?

ER – Olha, é importante que se comece por se implementar políticas de reflorestação de algumas áreas, com destaque para as zonas de mangues, regular a exploração de recursos naturais e fazer-se investimento para o desenvolvimento de programas de educação ambiental em prol da preservação e conservação do meio nas suas distintas vertentes, tendo como suporte as escolas, com a realização de palestras que devem ser estendidas às comunidades.

ANGOP – Qual é o impacto das mudanças climáticas  no país?

ER – Com o passar dos anos, o país tem demonstrado mais evidências das alterações climáticas, como o registo do aumento substancial de precipitações em algumas zonas, facto que causa as inundações em áreas urbanas, como também a seca prolongada no sul, o que leva à redução da produtividade agrícola e acelera a transumância, afectando a segurança alimentar e hídrica de milhares de famílias.

ANGOP – Na sua opinião, a população está suficientemente informada sobre questões ambientais?

ER – Infelizmente não, a consciencialização ambiental ainda é limitada, apesar de algumas iniciativas que vêm sendo desenvolvidas. O tema é muito importante e sensível, que a falta de informação da sociedade civil faz com que a tarefa do Governo em atingir os objectivos se torne mais difícil, mesmo com a criação de medidas preventivas. É importante a plena colaboração dos cidadãos em todos os aspectos de protecção do ambiente.

ANGOP – Como avalia o sistema de reciclagem e gestão de resíduos no país?

ER – O sistema de reciclagem e gestão de resíduos no país podemos considerá-lo ainda precário ou insuficiente, pois grande parte dos resíduos acaba em aterros inadequados ou é descartada de forma irregular, o que contribui para a poluição ambiental.

Torna-se importante fazer-se uma avaliação sistemática, no sentido de se desenvolver competências e instituições capazes de fazer um reaproveitamento minucioso destes materiais que podem vir a ser uma fonte de sustentabilidade ambiental e familiar, pelo facto de poder gerar renda, tal como em outras latitudes. 

ANGOP – Que acções individuais têm realizado para reduzir o seu impacto ambiental, sobretudo a salvaguarda de espécies em risco?

ER – Bom, tenho participado em várias conferências, bem como desenvolvido programas de conservação da vida selvagem em Angola, apostando na sensibilização de comunidades, plantação de árvores, resgate de animais selvagens e a reintrodução destes na vida selvagem quando possível.

ANGOP – De que forma as empresas locais devem contribuir para a sustentabilidade ambiental?

ER – Obrigado. São três pilares que fazem parte da responsabilidade social de uma empresa: desenvolvimento, apoio social, económico e ambiental. Neste quadro, devem adoptar práticas sustentáveis, como o uso de tecnologias limpas, a redução de emissões de carbono, uma gestão responsável de resíduos e a promoção de programas de responsabilidade social que incluam a educação ambiental e o apoio a comunidades locais.

ANGOP – Que políticas públicas ou iniciativas sustentáveis acredita que devem ser implementadas com urgência?

ER – É urgente implementar políticas de incentivo à energia renovável, criar sistemas eficientes de recolha selectiva e reciclagem, proteger áreas de biodiversidade, promover a agricultura sustentável e garantir a gestão adequada de recursos hídricos.

ANGOP – A que passos estamos?

ER – Nos dias de hoje, já sinto uma presença forte de ecopontos distribuídos pela cidade capital e não só. Tem havido um esforço seguido de um investimento no sentido de dar melhor tratamento ao lixo, sentimos a presença de painéis solares em uso em serviços públicos e privados, há a sensibilização para o uso racional da água. Portanto, as medidas estão aí, é necessário fazer-se mais pressão sobre o assunto e envolver todos para o sucesso desta missão.

ANGOP – Angola comemora, a 11 de Novembro de 2025, o jubileu da “Dipanda”, o que isso representa em termos ambientais?

ER – De facto é um momento ímpar que marca uma nova fase do país com grandes avanços para o sector do ambiente, com destaque para o projecto dos parques nacionais que teve início, em 2011, quando da aprovação da Estratégia Nacional de Biodiversidade, que incluiu acções específicas para a conservação dos parques e áreas protegidas e a aprovação de algumas leis e regulamentos, como a Lei de Gestão de Resíduos Sólidos, a Regulamentação de Áreas de Protecção Ambiental, Política de Energias Renováveis, Plano de Reflorestamento, Sensibilização e Educação Ambiental e Controlo de Poluição Hídrica.

Há ainda muito por se fazer, mas os passos já foram largos e consideráveis, com destaque para a ratificação de vários acordos internacionais, como a participação activa do Governo em convenções internacionais que tem ajudado significativamente na credibilidade do país.

É visível o esforço conjunto, para o combate às questões climáticas e resíduos sólidos, mas ainda muito tem de ser feito. Hoje, estamos todos de parabéns, mas ainda assim temos um caminho para percorrer, que julgo que, com audácia, sabedoria e determinação, seremos bem-sucedidos.

ANGOP – Que recomendações faria ao órgão de tutela, no caso o Ministério do Ambiente?

ER – Defendo que o Ministério do Ambiente deve continuar com a sua estratégia de gestão, adoptando uma postura mais vertical nos diversos sectores da sociedade e das empresas, com o desenvolvimento de normas firmes em prol da protecção dos animais, com maior presença nas comunidades rurais, onde a cada dia o conflito humanos vs animais está mais acentuado.

Os animais começam a perder o seu habitat natural, facto que põe em risco muitas espécies da fauna e da flora angolanas.

ANGOP: Que mensagem gostaria de deixar para incentivar mais pessoas a engajar-se na protecção do ambiente?

ER – O processo começa dentro das nossas próprias casas, desde os animais de estimação, as plantas, o respeito ao vizinho. É importante que desenvolvamos mais empatia, mais sensibilidade com o meio ambiente, temos tudo a nosso favor, fomos abençoados com beleza e abundância das nossas planícies, os nossos rios de ponta a ponta, a nossa rica biodiversidade, o nosso rico clima tropical, sem esquecer da nossa gastronomia, então para podermos melhor usufruir, temos de a proteger. 

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