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O empurrão da 5G à indústria angolana

Por: Sílvio Almada

O avanço lento da indústria angolana poderá aproveitar o impulso da nova tecnologia 5G para resolver algumas barreiras tecnológicas que a impedem de levantar voo. Questões como gestão de energia, optimização das cadeias de abastecimento ou redução de desperdícios estão na linha da frente das soluções que a 5G propõe para potenciar a indústria em todo o mundo.

As telecomunicações estão a viver uma verdadeira reviravolta com o arranque da 5G, tecnologia que quer revolucionar o nosso dia-a-dia e os sistemas de produção. As diferenças para a irmã mais velha, 4G, são radicais. Os níveis sem precedentes de velocidade de conexão e download de dados colocam esta rede sem fios ao nível da malha de cabos de fibra óptica. A latência, o tempo que um dispositivo demora a executar uma ordem desde que ela é enviada, e que é o grande ponto crítico destas conexões, se reduzirá 200 vezes, para apenas um milésimo de segundo. Este salto de gigante dá-nos bem a noção do nível deste avanço tecnológico.

As possibilidades são muitas e já estão a ser exploradas em países como os Estados Unidos, Coreia do Sul ou a China, onde as indústrias estão na linha da frente da 5G. Os primeiros resultados mostram que as novas redes digitais podem ser, para este segmento, um potente motor.

Energia inteligente

A eficiência energética é crítica para a indústria em todo o mundo e em países como Angola ganha contornos de urgência. A optimização dos recursos energéticos, não só neste sector, mas também na vida comum, é uma das grandes oportunidades que a 5G nos traz.

No documento “5G Verde: Construindo um Mundo Sustentável”, a Huawei, em conjunto com a consultora internacional Analysys Mason, demonstram que as redes sem fios 5G, combinadas com tecnologias como a nuvem, inteligência artificial e a chamada “Internet das Coisas” (rede de objectos físicos com sensores integrados para recolha de dados), podem ter um impacto significativo na redução do consumo de energia. Como? Automatizando a produção com sistemas de inteligência artificial que predizem possíveis ineficiências e optimizam os recursos energéticos disponíveis. Ao poupar energia, não só se diminuem os custos, mas também se reduzem as emissões de dióxido de carbono e, como tal o impacto ambiental do sector industrial, uma das grandes bandeiras da 5G.

A prática confirma a teoria. Na China, por exemplo, uma fábrica de telemóveis substituiu o sistema manual de controlo de qualidade nas linhas de montagem por uma rede de câmaras inteligentes conectadas num sistema sem fios 5G. A implementação reduziu o consumo de energia em 6% e aumentou quase 20 vezes a rapidez da inspecção.
Os resultados mostram que usar as redes móveis para criar “energia inteligente” é possível. Esta característica, aponta a Huawei em “5G Verde: Construindo um Mundo Sustentável”, faz das redes 5G as mais sustentáveis de sempre.

Tecnologia é dinheiro

A eficiência energética mede-se não só com apagar ou acender luzes, máquinas ou geradores. Num sector integrado como o da indústria, a 5G gera também oportunidades para reduzir espaço (e gastos) no ambiente físico. A chave é a híper-conectividade, a interconexão remota e até a realidade virtual ou aumentada, que poderá ser agora facilmente usada para formar trabalhadores em processos complexos ou evitar viagens de negócios desnecessárias. As soluções 5G vão também permitir a operação de “fábricas virtuais”, conjunto de empresas interligadas e colaborativas com cadeias de abastecimento globais e altamente flexíveis.

Se nos escritórios as possibilidades são muitas, é no piso das fábricas que a 5G terá um impacto mais visível. As máquinas, robots industriais, sensores, produtos e operadores serão controlados de forma remota e em tempo real através da nuvem. Esta interconexão abrirá passo às chamadas “fábricas inteligentes”. O uso de “olhos” de inteligência artificial na área de produção e na gestão de processos e de cadeias de abastecimento também dará aos gestores uma quantidade enorme de informação que lhes permitirá antecipar problemas e tomar decisões rápidas e assertivas. E tudo isto, por uma fracção do custo e do consumo actual de energia. Menos erros, menores gastos, maiores receitas. Fórmula vencedora.

E que possibilidades tem Angola de entrar nesta onda tecnológica? Os especialistas respondem: a 5G pode dar um empurrão a países como o nosso, com infra-estrutura tecnológica débil e um parque industrial insípido assente em processos manuais, sobretudo. Com esta oportunidade, dizem, poderemos saltar etapas, deixando para trás implementações tecnológicas caras, que a 5G já tornou obsoletas. Ganhamos tempo e avançamos mais rápido.

Esta evolução exige tempo e investimento, claro está. E muita vontade política para facilitar a cooperação entre todas as partes interessadas, apostar na regulação e reduzir as barreiras em termos de espectro e infra-estrutura, reforça o livro branco que a Huawei e a Analysys Mason acabam de publicar. Mas as vantagens são óbvias: a 5G poderá integrar de uma vez por todas a nascente indústria angolana numa rede global de última geração que liga pessoas e máquinas, aumentando assim a rentabilidade, os níveis produtivos e a eficiência energética. Uma forma de potencializar os negócios, ajudando ao mesmo tempo o meio ambiente a travar um desastre ecológico anunciado.

Sílvio Almada é o actual Presidente da Associação de Provedores de Serviços de Internet.

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